Folha de S.Paulo

Presidente do BNDES muda tom sobre juros

- MAELI PRADO MARIANA CARNEIRO

Após criticar a nova taxa de juros para os empréstimo­s do BNDES, a TLP (Taxa de Longo Prazo), o presidente do banco, Paulo Rabello de Castro, mudou o discurso nesta quarta (12) e disse que “só executa” as ordens do governo.

A taxa foi concebida pela equipe econômica (Fazenda, Planejamen­to e BC) e apresentad­a na gestão da antecessor­a de Rabello de Castro no BNDES, Maria Silvia Bastos Marques. Na semana passada, após ele dizer que a TLP poderia prejudicar os investimen­tos, dois diretores do banco se demitiram. A crise fez a equipe econômica se mobilizar em defesa da proposta.

Com a mudança, a taxa passa a ser corrigida de acordo com os juros dos títulos NTN-B, emitidos pelo Tesouro. O objetivo é alinhar a taxa praticada pelo banco às do mercado e reduzir o subsídio do governo, que banca juros mais baixos para as empresas que tomam crédito no banco.

Nesta quarta (12), em cerimônia no Planalto, Paulo Rabello afirmou que a atual taxa, a TJLP (Taxa de Juros de Longo Prazo), na prática não é subsidiada, já que o banco retorna recursos à União na forma de dividendos.

No entanto, ele recuou de críticas à nova taxa e disse que não apresentar­ia mudanças no texto que cria a TLP, em discussão no Congresso.

“Eu não tenho que ter proposta. O único que tem que ter proposta é o presidente Michel Temer. Estou totalmente vinculado à MP”, disse. “Estou decorando a MP para saber tudo o que o governo propôs para que eu possa endossar”, ironizou.

“Funcionári­o do governo não tem posição. A minha posição é de sentido”, disse. “Sou um técnico do governo, dos mais modestos. Nem sei se eu penso, eu só executo.”

A nova taxa foi objeto de uma medida provisória editada pelo governo e agora tem de ser votada pelo Congresso.

Diante das críticas, que vieram também do setor produtivo, o assessor especial de políticas microeconô­micas do Ministério da Fazenda, João Manoel Pinho de Mello, afirmou nesta quarta que os recursos direcionad­os às empresas, via BNDES, vêm de impostos cobrados dos trabalhado­res e servem para mitigar os efeitos do desemprego (como seguro-desemprego).

“Os recursos estão fazendo falta”, afirmou, em audiência pública. Segundo ele, para tapar o buraco no FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhado­r), de onde saem os recursos para o BNDES, o Tesouro terá de aportar R$ 18 bilhões no fundo neste ano e R$ 20 bilhões em 2018.

“A TLP dá transparên­cia ao subsídio e faz com que projetos sofram escrutínio mais forte. [Nos empréstimo­s do BNDES], parece que não há subsídio, que é de graça, mas custa ao contribuin­te.” VINICIUS TORRES FREIRE O colunista está em férias

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