Motorista de aplicativo em SP terá traje obrigatório
Um carroceiro foi baleado por um policial militar na noite desta quarta (12), em frente a um supermercado na rua Mourato Coelho, em Pinheiros, zona oeste de São Paulo.
De acordo com a PM, por volta das 18h o homem, identificado apenas como Ricardo, de 38 anos, usou um pedaço de madeira para ameaçar os policiais, que acabaram atirando. Ele foi levado ao Hospital das Clínicas —que não divulgou informações sobre seu estado de saúde.
Moradores que presenciaram a cena disseram que o carroceiro havia pedido um lanche a funcionários de uma pizzaria na rua, que chamaram a polícia.
Segundo as testemunhas, o homem estava alterado e com um pedaço de madeira nas mãos quando os policiais chegaram, mas não se tratava de uma ameaça aos PMs.
“Ele passou por mim, falando alto, irritado, com um pedaço de pau na mão. De repente só ouvi o policial gritando ‘baixa o pau se não eu vou atirar’. Não acreditei que ele estava apontando uma arma pra esse cara. Ele vive bêbado, mal se aguenta em pé”, afirmou uma moradora da rua Fradi- que Coutinho que passava a pé pelo local. Ela pediu para não ser identificada.
O carroceiro foi atingido por ao menos dois tiros. Em cerca de 20 minutos a rua foi fechada por carros da polícia. ‘DESNECESSÁRIA’ Seguranças do supermercado Pão de Açúcar em frente à ocorrência fecharam as portas, assim como outros estabelecimentos, e vizinhos fizeram vídeos. Um deles, publicado em redes sociais, mostra policiais colocando o corpo inerte em uma viatura.
O ouvidor da Polícia de São Paulo, Julio Cesar Fernandes Neves, esteve no local na noite desta quarta-feira e afirmou que, de acordo com os relatos ouvidos de testemunhas, a ação policial parece ter sido “desnecessária”.
“Todo mundo está falando que [o carroceiro] era conversável, trabalhador, conhecido na rua”, afirmou Neves.
“Ele cumprimentava as pessoas. Às vezes ficava alterado, mas nunca vi nada violento”, avaliou o jornalista Carlos Henrique Carvalho, que também mora nas imediações.
O ouvidor da Polícia de São Paulo diz ter ouvido de testemunhas que o carroceiro foi atingido por três disparos, sendo um no peito e dois na cabeça. Uma moradora ouvida pela Folha, no entanto, diz ter ouvido dois disparos.
As testemunhas também afirmaram que ele parecia estar morto, mas a polícia e o Hospital das Clínicas não confirmaram a informação até a conclusão desta edição.
O caso ainda estava sendo registrado no 14º DP (Pinheiros) no final da noite. A Secretaria Estadual de Segurança Pública, ligada ao governo Geraldo Alckmin (PSDB), informou que a Polícia Civil investiga a ocorrência, que também será apurada pela Corregedoria, como é praxe.
A via continuava com bloqueio à noite e a carroça que era levada pelo carroceiro permanecia no local. Prefeitura publicou regras nesta quarta (12)
DE SÃO PAULO
Camisa, calça e sapato social. O traje, conhecido como esporte fino, será o novo “look” obrigatório dos motoristas de transporte por aplicativos em São Paulo.
A norma já era esperada pela categoria e foi publicada no “Diário Oficial” nesta quarta-feira (12). Também foram permitidos o uso de camisas polo e calças jeans.
O vestuário é apenas uma das mudanças estabelecidas pela prefeitura. Também passa a ser obrigatório o emplacamento dos carros na cidade, a realização de cursos e obtenção de certificados por parte dos motoristas, a identificação visual do carro como parceiro de algum dos aplicativos e a inspeção veicular anual.
Foram proibidas ainda camisetas, regatas e moletons, além de chinelos e roupas de times esportivos.
Na prática, as mudanças regulamentadas pela gestão João Doria (PSDB) aproximam o serviço por aplicativos às normas já exigidas dos taxistas. Essa era uma pressão da categoria desde a chegada ao país de aplicativos do gênero. As empresas e motoristas terão agora 180 dias para se adequarem às novas medidas.
A Cabify disse que as regras internas da companhia já compreendem os pontos necessários para um atendimento de qualidade e segurança aos seus passageiros. A Uber afirmou que as novas regras cumprem o único propósito de trazer “ineficiências a um sistema eficiente”.
De acordo com Luiz Fernando Prudente do Amaral, advogado especializado em direito público, a nova regulação retrocedeu e só criou mais burocracia. “Me parece que esse excesso de regulamentação chega perto de inviabilizar a atividade”, diz.
Ainda segundo Amaral, a gestão João Doria poderia ter avançado se tivesse criado uma legislação que se preocupasse mais com a segurança do passageiro e não muito atrelada à administração em si do sistema.
“Claro que a prefeitura precisa saber quem é esse motorista e se ele tem condições de prestar o serviço com qualidade. O erro foi criar uma burocracia bem semelhante à exigida aos táxis e que já era contestada pela própria categoria.”
Procurada, a Prefeitura de São Paulo não respondeu aos comentários das empresas e do especialista até a conclusão desta edição.