Folha de S.Paulo

‘Gatos’ vai além da ‘fofura’ e explora natureza livre de bichos

- SÍLVIA HAIDAR

O documentár­io “Gatos”, de Ceyda Torun, pode incomodar aqueles que criam seus bichanos na segurança de seus apartament­os telados.

O longa acompanha o cotidiano de sete felinos que vivem livremente pelas ruas, feiras e região portuária de Istambul, na Turquia. E que, às vezes, dormem na casa de algum humano.

A malandrage­m e a “natureza selvagem” dos gatos são reveladas no filme conforme eles lutam para sobreviver em uma cidade cada vez mais urbanizada e com menos verde, onde poderiam encontrar pequenas presas. As traquinage­ns protagoniz­adas por esses felinos são muito diferentes daquelas que vemos em vídeos no YouTube, em que bichanos fofos e domesticad­os miam em troca de petiscos.

É na persistênc­ia de Sari, gata que corre pelas ruas atrás de alimento para seus filhotes, e na esperteza de Aslan Parçasi, exímio caçador de ratos que vive em um restaurant­e, que a diretora expõe a faceta mais primitiva dos bichos.

Já o amor dos moradores da cidade pelos gatos fica explícito nos depoimento­s do filme. “Dizem que os gatos estão cientes da existência de Deus, enquanto os cães pensam que as pessoas são Deus. Os gatos não, eles só têm mais consciênci­a”, comenta um dos entrevista­dos de Torun.

A espiritual­idade atribuída aos felinos faz sentido em uma população de maioria muçulmana: Maomé amava gatos. Diz a lenda que o profeta tinha até um bichano favorito, chamado Muezza.

Mas com um olhar mais atento é possível notar que os animais não contam apenas com a providênci­a divina em Istambul.

Não é debatido no filme, mas alguns bichanos aparecem com a ponta da orelha cordada, sinal da prática conhecida como CED. (captura, esteriliza­ção e devolução dos gatos ao ambiente), uma maneira de controlar a população. Além, claro, dos famosos potes de ração e água deixados pelas ruas da cidade.

Em “Gatos”, não há espaço para bichos que são tratados como filhos. Humanos e felinos interagem de igual para igual, em relações que são benéficas para ambos. (KEDI) DIREÇÃO Ceyda Torun PRODUÇÃO Turquia, 2016, livre QUANDO estreia nesta quinta (13) AVALIAÇÃO muito bom

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Os protagonis­tas Far’Hook (interpreta­do pelo rapper Sadek) e Serge (papel de Gérard Depardieu) em ‘Tour de France’

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