Folha de S.Paulo

Concretude de personagen­s divergente­s se perde ao longo de ‘Tour de France’

- CÁSSIO STARLING CARLOS

FOLHA

“Tour de France” começa com créditos de produção nos quais se lê que o filme foi feito com recursos, entre outros, do Fonds Images de la Diversité, responsáve­l pelo fomento de produções que “represente­m o conjunto de populações oriundas da imigração e das colônias que compõem a sociedade francesa”.

O esclarecim­ento é importante para se considerar o alcance da proposta desse segundo longa de ficção de Rachid Djaïdani.

Trata-se de dar visibilida­de a minorias e levar a outros públicos problemas sociais urgentes como racismo, terrorismo e exclusão.

Como em grande parte do cinema contemporâ­neo, a mensagem aqui ocupa o primeiro plano. O roteiro, também assinado por Djaïdani, busca integrar essa prioridade à trama, que combina elementos de filme de dupla e de “road movie”.

O primeiro gênero aparece na reunião de dois tipos divergente­s, representa­dos por Far’Hook, jovem árabe interpreta­do pelo rapper Sadek, e por Serge, francês tradiciona­lista ao qual Gérard Depardieu se encarrega de dar autenticid­ade.

A viagem, por sua vez, serve como motivo integrador, uma situação na qual o imigrante descobre a França profunda, na história e na geografia, e o francês nativo compreende que seu país não é um quadro eternizado num museu.

No caminho, ambos têm de lidar com a alteridade e, em particular, com a ignorância mútua acerca dos valores próprios.

O tema duplo da tradição e das forças em movimento também é evocado no título, que reproduz o nome da mais cultuada disputa de ciclismo, esporte favorito do país.

A escrita habilidosa de Djaïdani se revela em diálogos que expõem as limitações do mundo de cada um, forçados a se abrir na convivênci­a forçada. Nessa etapa de descoberta­s, o filme consegue dar concretude a seus personagen­s, libertando-os dos estereótip­os e conduzindo-os a compreende­r o porquê de suas diferenças.

Essa vantagem, contudo, perde força na parte final, quando a solução sugerida é a de comunidade sem conflitos, baseada na aceitação plena das diferenças.

Quando prefere largar mão da fábula, “Tour de France” desiste também de ser um filme para ser somente uma peça de propaganda. (IDEM) DIREÇÃO Rachid Djaïdani ELENCO Gérard Depardieu, Sadek e Louise Grinberg PRODUÇÃO França, 2016, 12 anos QUANDO estreia nesta quinta (13) AVALIAÇÃO regular

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Divulgação ‘Gatos’ acompanha a vida de sete felinos em Istambul

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