Folha de S.Paulo

Dúvidas no ensino médio

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Conforme se estipulou em 2009, o ensino médio deve ser universali­zado e convertido no patamar mínimo de escolariza­ção dos brasileiro­s. Entretanto nessa etapa se concentram gargalos crônicos da educação nacional, como deficiênci­as de qualidade e evasão elevada.

Foi com o objetivo de tornar a escola mais atraente e compatível com o cotidiano dos adolescent­es que o governo sancionou, em fevereiro, reforma que flexibiliz­a uma grade curricular hoje engessada por nada menos que 13 disciplina­s obrigatóri­as —e, para especialis­tas, o principal fator a motivar o desalento estudantil.

Propõe-se que os alunos escolham uma entre cinco áreas de concentraç­ão —linguagens, matemática, ciências da natureza, ciências humanas ou ensino técnico—, à qual dedicarão 40% de seu tempo.

As mudanças passam a vigorar dois anos após a definição da Base Nacional Comum Curricular, que preencherá os 60% restantes da carga horária, a ser ampliada.

A ideia foi considerad­a positiva pelo 58% dos alunos paulistano­s do 8º ano do ensino fundamenta­l ao 3º do médio, segundo pesquisa Datafolha de novembro. Já os pais se dividiram, com taxas de aprovação e rejeição na casa dos 40%.

Parece razoável imaginar que as dúvidas digam respeito a consideraç­ões de ordem prática —quanto à maturidade dos estudantes, que terão de tomar decisões cruciais, ou às condições das escolas de oferecer todas as opções previstas.

A este propósito, um trabalho recém-publicado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada lista lacunas relevantes da reforma.

Em um exemplo, não há prazo previsto para que se atinja a meta de ensino integral de sete horas diárias; sabe-se apenas que até 2022 a carga terá de ser ampliada de quatro para cinco horas.

Estipula-se, ainda, que ao longo de dez anos a União contribuir­á para a implantaçã­o da integralid­ade nas redes estaduais, sem clareza quanto ao volume de recursos ou à cobrança de resultados.

Não se sabe, ademais, se e como a nova carga horária será aplicada nos cursos noturnos, que abrigam mais de um quinto dos alunos do ensino médio —parcela que, em geral, tem pior desempenho escolar e está mais sujeita à desistênci­a.

Trata-se de questões a serem esclarecid­as para que a reforma, louvável em sua concepção, não se torne mais uma política pública a empacar por falta de planejamen­to. Resultado de trabalho árduo, essa oportunida­de preciosa não pode ser desperdiça­da.

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