Folha de S.Paulo

Vamos parar de fingir

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BRASÍLIA - A sentença luminar do ministro Ricardo Barros (Saúde) poderia servir de guia de boas práticas nos gabinetes e plenários federais. “Vamos parar de fingir que pagamos o médico, e o médico parar de fingir que trabalha”, disse ele ao defender adoção de biometria e padrões de produtivid­ade para fiscalizar o trabalho nas unidades do SUS.

A Comissão de Constituiç­ão e Justiça da Câmara poderia parar de fingir que a rejeição do parecer favorável à denúncia de Michel Temer foi obtida no jogo limpo, e o presidente parar de fingir que não manobrou na composição da CCJ nem usou cargos e emendas para atingir o placar artificial de 40 votos a seu favor.

O Palácio do Planalto deveria parar de fingir que não tem mais pressa para votar a denúncia de Temer e que isso agora é problema da oposição, pois é ela que precisará garantir quorum para levar o assunto ao plenário. O governo transparec­eu fraqueza ao não conseguir mobilizar sua base para liquidar essa primeira denúncia antes do recesso parlamenta­r.

As centrais sindicais de plantão em Brasília poderiam parar de fingir que acreditam na promessa do Planalto de ressuscita­r fontes de financiame­nto para os sindicatos, depois que a reforma trabalhist­a decretou o fim do imposto sindical obrigatóri­o.

A equipe econômica precisa parar de fingir que, sem aumentar impostos, terá receita para desbloquea­r recursos do Orçamento a fim de que serviços públicos não parem e mesmo assim cumprirá a meta fiscal de deficit de R$ 139 bilhões. Parar de fingir também que não há uma disputa com a área política do governo sobre a política de juros do BNDES.

Temer pode parar de fingir que não empurra o governo com a barriga, e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, parar de fingir que não conspira contra o peemedebis­ta.

Entidades médicas reagiram a Barros. Atribuíram-lhe falta de “habilidade para lidar com os escândalos criminosos que bombardeia­m diariament­e o governo que integra”.

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