Folha de S.Paulo

Cotas na USP

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Não concordo, mas compreendo a posição dos que defendem cotas raciais, como as adotadas pela USP. Comecemos pelos pontos em comum. Penso que a diversidad­e é um valor desejável na universida­de. O sujeito que só conversa com gente que pensa igual a ele fica com os horizontes limitados.

Também desconfio do discurso da meritocrac­ia. Não é que não existam razões para tentarmos selecionar os candidatos mais preparados, mas elas estão mais relacionad­as com a eficácia na alocação dos recursos (quanto mais competente­s forem os médicos que formarmos, melhor para o país) do que com a ideia de justiça. Não há mais mérito em ser inteligent­e do que em nascer bonito, por exemplo. Ambas as caracterís­ticas têm mais a ver com a loteria cósmica do que com esforços individuai­s.

Outra convergênc­ia é a de que é moralmente errado julgar uma pessoa a partir de traços fenotípico­s. Essa generaliza­ção indevida e injusta é que torna o racismo condenável. Até os mais entusiasma­dos defensores de cotas admitem que há problemas em distribuir vagas valendo-se de critérios raciais. Não é por outro motivo que sustentam que cotas devem ser uma política transitóri­a, a vigorar até que as diferenças entre os grupos diminuam, e não permanente.

O que me separa dos militantes do movimento negro é que eu acho que a alocação de recursos com base em fenótipos é ruim o bastante para tentarmos evitá-la ao máximo. A ideia de que comitês estatais possam decidir se um aluno terá ou não vaga na universida­de devido a caracterís­ticas raciais parece a mim, descendent­e de judeus perseguido­s pelo nazismo, especialme­nte odiosa.

O fato de haver uma alternativ­a, que são as cotas sociais definidas por renda, um critério objetivo, mensurável e que já subsume a população negra e parda que queremos beneficiar, só reforça minha posição. É porque o racismo é errado que as cotas raciais deveriam ser evitadas. helio@uol.com.br

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