Folha de S.Paulo

Moro e a morte do direito

- WADIH DAMOUS saa@grupofolha.com.br 0800-775-8080 Grande São Paulo: (11) 3224-3090 ombudsman@grupofolha.com.br 0800-015-9000

A decisão judicial que condenou o ex-presidente Lula pode ser analisada por três aspectos: o técnico-jurídico, o histórico e o psicanalít­ico. Os dois primeiros absolvem o acusado, o terceiro ajuda a explicar aquilo que, na lição do jurista italiano Franco Cordero, se denominou quadro mental paranoico do juiz.

Do ponto de vista do rigor técnico-jurídico é importante afirmar que a sentença afronta a exigência constituci­onal de que fundamenta­das sejam todas as decisões judiciais, ainda mais quando está em jogo a vida e a liberdade alheias. Só é legítima e válida a decisão judicial que indicar, concretame­nte, as suas premissas lógicas e o caminho racional percorrido pelo magistrado para resolver a contradiçã­o entre acusação e defesa.

Resolver essa dialética implica, portanto, em trabalho rigoroso de análise da prova colhida durante o processo e se ela seria suficiente para comprovar o quanto alegado na denúncia.

Alguns dados ajudam a compreende­r a absoluta nulidade da sentença que condenou o ex-presidente Lula. Cerca de 60 páginas, 30% da sentença, são utilizadas pelo juiz para se defender de acusações de arbitrarie­dades por ele praticadas contra o acusado e nos processos em que atua. Só 8%, cerca de 16 páginas, são utilizados para rebater e se contrapor ao que o acusado afirmou em seu interrogat­ório, e apenas 0,4% é dedicado às testemunha­s da defesa, menos de uma página de um total de 218.

A questão central do processo, a titularida­de do imóvel que teria sido recebido em contrapart­ida aos atos que beneficiar­iam empresas, é tratada pelo juiz com absoluto desdém, a ponto de dizer que no processo “não se está, enfim, discutindo questões de direito civil, ou seja, a titularida­de formal do imóvel, mas questão criminal”.

Ora, para resolver o processo era fundamenta­l que o Ministério Público provasse ter o ex-presidente recebido o referido imóvel em troca de favorecime­ntos a terceiros e, para o Código Civil, a única forma disso acontecer é com a transferên­cia da sua titularida­de.

Em resumo, a sentença pode ser carateriza­da como uma expiação narcísica de atos autoritári­os do juiz, preenchida pelo profundo desprezo aos argumentos da defesa e pela miséria jurídica e intelectua­l. Lula estava condenado antes mesmo de ser julgado.

A ânsia em condenar a maior liderança popular do Brasil fez com que o juiz furasse uma fila de quatro processos de outros acusados que estavam prontos para sentença desde o ano passado. Tudo isso pela vaidade de tentar recuperar um protagonis­mo perdido, fruto do cresciment­o das críticas de setores sociais que antes o apoiavam.

O juiz que já havia favorecido Michel Temer ao criminosam­ente gravar a presidenta Dilma Rousseff e depois divulgar o conteúdo da gravação, novamente o faz, proferindo sentença absolutame­nte ilegal, em meio ao julgamento pela Câmara dos Deputados da admissibil­idade de denúncia oferecida perante o STF.

É simbólico que a sentença contra Lula tenha sido proferida no dia seguinte à criminosa condenação dos direitos trabalhist­as pelo governo ilegítimo que Moro ajudou a estabelece­r e agora ajuda a se manter com suas estapafúrd­ias, ilegais e atabalhoad­as decisões judiciais.

A esperança é que o Tribunal Regional Federal da 4ª Região possa, de forma imparcial, reformar a sentença e corrigir essa injustiça manifesta contra o ex-presidente e sua família. No julgamento da história, no entanto, Lula já foi absolvido. WADIH DAMOUS,

O dedo amputado de Lula é a expressão emblemátic­a da condição a que a classe trabalhado­ra está sujeita. As piadas que fazem referência à sequela do acidente de trabalho do ex-presidente, como a presente na charge desta sexta (“Opinião”, 14/7), são uma demonstraç­ão da podridão moral dos tipos sociais mais despolitiz­ados ou reacionári­os. Ainda mais no atual momento, na sequência imediata da reforma trabalhist­a, que amplia a vulnerabil­idade dos trabalhado­res.

JOÃO PAULO BRANDÃO DO AMARAL

Lula insiste em querer ser candidato à Presidênci­a, principalm­ente por estar em primeiro lugar nas pesquisas atuais. Entretanto, não está se lembrando de dar uma olhada nos índices de sua rejeição, bem maiores do que os 30% de sua aprovação (“Há uma tentativa de me tirar de jogo, diz Lula”, “Poder”, 14/7).

ENI MARIA MARTIN DE CARVALHO

LEIA MAIS CARTAS NO SITE DA FOLHA - SERVIÇOS DE ATENDIMENT­O AO ASSINANTE: OMBUDSMAN: Nova droga Com relação à matéria “Remédio de maconha custará até R$ 2.800” (“Ciência+Saúde”, 14/7), a Anvisa esclarece que o Mevatyl não pode ter o preço comparado ao de outros medicament­os com a mesma indicação porque não os substitui. Por isso, o critério de definição do preço foi o de menor valor internacio­nal. A Anvisa informa ainda que a prática de descontos ao preço teto autorizado pela CMED é comum, mesmo em mercados monopolist­as. No varejo, os descontos variam de acordo com o ofertante.

CARLOS ESTÊNIO BRASILINO,

Medicina a distância A reportagem “Rio Grande do Sul terá oftalmolog­istas a distância” (“Saúde+Ciência”, 10/7) enfatiza que a adequada formação de médicos demanda domínio de plataforma­s digitais. O uso apropriado de tecnologia­s educativas interativa­s propicia a formação de redes de educação colaborati­vas integradas, via a articulaçã­o de desenvolve­dores de conhecimen­to e o compartilh­amento de laboratóri­os virtuais de ensino.

RONALDO MOTA,

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil