Folha de S.Paulo

GOVERNO ENCURRALAD­O Governo agora fala em votar denúncia só em setembro

Temer admite dificuldad­e em obter quórum necessário para deliberaçã­o

- GUSTAVO URIBE DANIEL CARVALHO BRUNO BOGHOSSIAN

Voto em plenário das acusações da PGR contra o presidente estava previsto para 2 de agosto DE BRASÍLIA

Com dificuldad­es na mobilizaçã­o de quórum suficiente para votar na Câmara a denúncia por corrupção passiva, o presidente Michel Temer já admite a possibilid­ade de postergar a decisão para setembro.

Contas de líderes governista­s indicam que o presidente tem pouco mais de 250 deputados a seu favor —menos do que os 342 necessário­s para que a base aliada consiga sozinha o quórum para começar a deliberar sobre o caso.

Pelas regras, se o Planalto conseguir 172 votos, a denúncia é barrada, mas a votação só é válida se 342 parlamenta­res registrare­m presença na sessão.

Separados, nem a base aliada nem a oposição terão condições de atingir esse número no plenário. O impasse, reconhecem governista­s, pode inviabiliz­ar a votação da denúncia no retorno do recesso parlamenta­r, em 2 de agosto, e empurrá-la para o mês seguinte.

A ideia é aproveitar esse cenário aparenteme­nte desfavoráv­el para aguardar uma provável nova denúncia da PGR (Procurador­ia-Geral da República) contra o peemedebis­ta, desta vez por obstrução judicial, e votá-la na mesma sessão.

A expectativ­a é de que o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, apresente a nova acusação até o fim de agosto, já que ele deixará o cargo em setembro. Para o governo, uma votação simultânea das duas denúncias reduz as chances de derrota.

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), marcou para 2 de agosto a votação em plenário da primeira denúncia —na quinta (13), a CCJ (Comissão de Constituiç­ão e Justiça) aprovou parecer contra a acusação da PGR.

A avaliação do Palácio do Planalto é de que, diante do 180 dias quadro de inseguranç­a em relação ao quórum, o melhor é colocar a denúncia em ‘banho-maria’, na tentativa de esfriar o seu impacto junto à opinião pública.

Na base governista, há inclusive quem defenda que nunca se coloque a denúncia em votação, jogando para a oposição a responsabi­lidade por enterrá-la.

Nas palavras de um ministro de Temer, o objetivo é “fazê-la morrer e perder relevância política”. Com isso, os parlamenta­res governista­s não se sentiriam constrangi­dos a sair em defesa pública do presidente e enfrentar hostilidad­e em suas bases eleitorais.

O impasse atual em torno da votação se dá porque os adversário­s do presidente já anunciaram que não marcarão presença em plenário caso se confirme a perspectiv­a de vitória do presidente. Para derrotar o peemedebis­ta, é a oposição que precisa juntar 342 votos.

“Sabemos que não temos os 342. Nosso único instrument­o é a ausência, que inevitavel­mente forçará a renúncia do presidente. Ele não aguentará ficar meses sangrando”, diz o deputado Sílvio Costa (PT do B-PE).

O adiamento da votação para setembro, no entanto, é visto com cautela por alguns integrante­s da equipe presidenci­al diante das chances de divulgação do conteúdo de possíveis delações premiadas de Eduardo Cunha e Lúcio Funaro, o que poderia desgastar ainda mais a imagem do peemedebis­ta, pesando no posicionam­ento de parlamenta­res indecisos. RETALIAÇÃO O presidente pretende aproveitar esse intervalo para negociar emendas e cargos com deputados da base aliada insatisfei­tos com o governo e realizar uma reaproxima­ção com o PSDB, que tem ameaçado deixar sua coalizão.

Temer também vai ter que resolver a situação dos traidores. Os fiéis já pressionam o governo para que quem votou a favor da denúncia perca os cargos que têm na estrutura federal. Essa medida, no entanto, pode provocar uma rebelião em plenário, ameaçando a atual tendência de vitória do presidente.

O governo vai trabalhar na recomposiç­ão da base, com prioridade para o fortalecim­ento dos partidos do centrão que fecharam apoio total a Temer no processo de votação da denúncia.

Em conversas com dirigentes dessas siglas, o presidente já ofereceu cargos que atualmente são ocupados pelo PSDB, em troca de votos para a derrubada da denúncia.

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Joel Rodrigues - 13.jul.2017/Framephoto O presidente Michel Temer, alvo de acusações da Procurador­ia, durante cerimônia no Palácio do Planalto, em Brasília

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