Folha de S.Paulo

GOVERNO ENCURRALAD­O Planalto libera R$ 1 bilhão a deputados e senadores

Valor repassado é 31% maior do que o do mesmo período do ano passado

- CAMILA MATTOSO RANIER BRAGON

Pagamentos acontecem em meio à ofensiva de Temer contra as acusações que lhe foram feitas pela PGR

O Planalto liberou nos últimos dois meses R$ 1 bilhão para projetos de emendas de parlamenta­res. O valor é 31% maior do que o mesmo período do ano passado, quando Michel Temer ocupava o cargo de presidente interino após afastament­o de Dilma Rousseff.

Os pagamentos acontecem em meio à ofensiva de Temer contra as acusações que lhe foram feitas pela PGR (Procurador­ia-Geral da República) de corrupção passiva.

O levantamen­to foi feito pela Folha no “SIGA Brasil”, sistema de informaçõe­s do Orçamento federal.

A delação da JBS, que provocou a maior crise desta gestão, foi divulgada em maio. Em junho, o procurador-geral, Rodrigo Janot, apresentou denúncia contra Temer.

“Quem apoia, tem a verba”, disse o deputado Lincoln Portela (PRB-MG), que apesar de ser de um partido governista, foi sacado da CCJ (Comissão de Constituiç­ão e Justiça) para dar lugar a um deputado com voto decidido para salvar o presidente.

“Desde [o governo] Sarney até Temer, quem está com o governo sempre tem oportunida­des maiores neste contexto do que quem não está.”

Todos os 594 deputados e senadores têm direito a apresentar, anualmente, emendas individuai­s e coletivas ao Orçamento. Em geral, os congressis­tas priorizam obras e investimen­tos em seus redutos eleitorais. Para o Orçamento de 2017, cada parlamenta­r apresentou, individual­mente, até 25 emendas no valor total de R$ 15,3 milhões.

Apesar de as emendas terem formalment­e o caráter “impositivo”, ou seja, de execução obrigatóri­a, a real liberação do dinheiro está sujeita a contingênc­ias políticas e administra­tivas.

A Folha ouviu parlamenta­res da oposição, que relataram não ter recebido dinheiro para as emendas. “São cenas explícitas de fisiologis­mo e cooptação, visando a sobrevivên­cia de um governo moribundo. Só isso já daria mais uma denúncia de corrupção para caçá-lo”, afirmou o oposicioni­sta Ivan Valente (PSOL-SP). OUTRO LADO A reportagem enviou três perguntas ao presidente Michel Temer: se houve motivação política para os pagamentos, qual o motivo da concentraç­ão de liberação em meses mais delicados no Congresso e se havia algo a dizer sobre as acusações da oposição de fisiologis­mo.

Por meio de sua assessoria de imprensa, o presidente Temer respondeu que “não há essa relação. O governo apenas executa o Orçamento quando há disponibil­idade de caixa”. GUSTAVO PATU,

Para o Orçamento de 2017, cada parlamenta­r apresentou, individual­mente, até 25 emendas no valor total de R$ 15,3 milhões

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