Folha de S.Paulo

Maia atrai congressis­tas para inflar o DEM

Depois de encolher na era petista, antigo PFL recruta dissidente­s na esquerda para voltar a crescer na Câmara

- BERNARDO MELLO FRANCO DANIEL CARVALHO

Longe do poder, partido caiu de 105 para 21 deputados; chance de chegar ao Planalto dá impulso às negociaçõe­s FOLHA

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), articula a migração de deputados para turbinar seu partido, que esteve em vias de extinção na era petista.

Ele negocia a filiação de dissidente­s do PSB que se recusam a deixar a base do governo Temer. A meta é chegar a 50 deputados e tomar o lugar do PSDB como a terceira maior bancada da Câmara.

Nesta sexta (14), Maia recebeu um grupo de pessebista­s em sua residência oficial. Ele espera atrair pelo menos dez deputados dispostos a trocar a sigla de centro-esquerda pelo antigo PFL.

O grupo é encabeçado pela líder do PSB na Câmara, Tereza Cristina (MS). Ela está em conflito com a cúpula do partido, que rompeu com o Planalto e passou a defender a saída de Michel Temer.

O deputado Heráclito Fortes (PSB-PI), ex-pefelista, também está de malas prontas para voltar à sigla. “Os neossocial­istas estão chegando”, brinca o deputado Pauderney Avelino (DEM-AM).

Maia reconhece que o DEM esteve próximo de desaparece­r, mas diz que o partido está sendo recompensa­do pelos 13 anos de oposição ao PT.

“Diziam que o DEM se aliaria a qualquer governo, mas nós mantivemos a coerência. Agora estamos colhendo os resultados disso”, afirma.

O DEM entrou em queda livre na era petista. Depois de eleger 105 deputados em 1998, a sigla passou a encolher a cada quatro anos. Chegou ao fundo do poço em 2014, quando conquistou apenas 21 cadeiras na Câmara.

Hoje tem 29, graças a mudanças negociadas na última “janela da infidelida­de”.

O declínio eleitoral se acentuou em 2010 após o escândalo do mensalão do DEM, que levou à prisão do então governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda.

No ano seguinte, o atual ministro Gilberto Kassab aumentou a sangria ao criar o PSD junto com outro pefelista histórico, o ex-senador Jorge Bornhausen.

Os remanescen­tes do antigo PFL não esquecem a provocação do ex-presidente Lula na campanha de 2010, quando o petista disse que era preciso “extirpar o DEM da política brasileira”.

“Fomos um exército de loucos que resistiram até o fim”, diz o ministro da Educação, Mendonça Filho.

O deputado Avelino reconhece que o DEM teve dificuldad­e de trocar o poder pela oposição e quase sucumbiu após quatro vitórias do PT em eleições presidenci­ais.

“Ficou só a turma da resistênci­a. O auge do petismo foi o pior momento do nosso partido. Agora Lula está condenado pela Justiça e o DEM voltou a crescer”, comemora.

Além de atrair os dissidente­s governista­s do PSB, a cúpula do DEM negocia a filiação de deputados de siglas menores, como PPS e PHS.

Maia não quer avançar na bancada do PMDB para não criar novo atrito com Temer. No entanto, seus aliados dizem que a possibilid­ade de o deputado assumir a Presidênci­a aumentou o dote do DEM.

A ideia do presidente da Câmara é antecipar para dezembro a próxima janela de trocas partidária­s, que está prevista para março de 2018. Assim, o partido poderia ganhar peso ainda neste ano. MAQUIAGEM Há uma década, o PFL virou DEM numa tentativa de modernizar a imagem. O presidente da sigla, José Agripino Maia (RN), diz que o truque não se repetirá. “Mudar nome é maquiagem. Já fizemos isso e não surtiu efeito algum”, afirma o senador.

Ainda assim, é possível que o programa partidário sofra alterações. Isso facilitari­a a migração de congressis­tas do PSB para uma sigla de direita, com ideário conservado­r e origens na Arena, que sustentava a ditadura militar.

Se a versão turbinada do DEM chegar a 50 deputados, passará a ser a terceira maior bancada da Câmara, atrás de PMDB (62) e PT (58) e à frente do PSDB (46).

O deputado Danilo Forte (PSB-CE) diz que a ideia é juntar políticos que apoiam as reformas liberais do governo e “não estejam muito queimados na imagem ética”.

Nesta quinta (13), ele contrariou a direção de seu partido e votou a favor do arquivamen­to da denúncia que acusa Temer de corrupção.

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Ueslei Marcelino - 7.jun.2017/Folhapress O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, durante cerimônia de plano de agricultur­a no Palácio do Planalto, em Brasília

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