Após sufocar golpe, Turquia beira autocracia
Um ano após tentativa de derrubar Erdogan, presidente mantém país sob estado de emergência e consolida poder
Expurgo continua com demissão e exoneração de suspeitos de apoiar clérigo opositor que se autoexilou nos EUA
Quando, na noite de 15 de julho de 2016, tanques ocuparam as ruas e caças davam rasantes nos céus da Turquia, o mundo voltou sua atenção para acompanhar o que se desenrolaria a seguir. Um ano depois, o golpe foi sufocado, mas o país ainda está sob estado de emergência.
No primeiro momento, houve apreensão e incerteza. Uns pensavam que o Exército turco agia para evitar um novo ataque terrorista, como as explosões que haviam deixado 42 mortos no aeroporto internacional de Istambul menos de um mês antes.
Veio, então, a confirmação. Em mensagem veiculada na TV estatal, uma facção das Forças Armadas anunciou se tratar de uma iniciativa “para proteger a ordem democrática”, que estaria sendo ameaçada pelo governo de Recep Tayyip Erdogan.
Os militares rebeldes mantiveram como refém o comandante do Exército, bombardearam o Parlamento e o palácio presidencial em Ancara e atiraram contra civis.
Conclamados pelo presidente Erdogan, milhares foram às ruas para resistir à tentativa de golpe, a quinta e mais sangrenta da história recente da Turquia.
Os enfrentamentos deixaram 250 mortos e mais de 2.000 feridos. Na manhã seguinte, os golpistas se renderam, e Erdogan, que está no poder desde 2003 pelo Partido Justiça e Desenvolvimento (AKP, de orientação islamita e conservadora), anunciou a retomada do controle.
“Foi uma campanha terrorista para derrubar o governo democraticamente eleito”, afirma Serkan Gedik, cônsulgeral da Turquia no Brasil. “Todos se uniram contra o golpe. Não se tratava de defender um governante, mas a própria democracia.”
Segundo o governo, a ten- tativa de golpe foi orquestrada por seguidores do clérigo Fetullah Gülen, ex-aliado de Erdogan que atualmente vive exilado nos EUA. Ele nega ter envolvimento com a ação.
Sob a justificativa de combater os golpistas “de forma rápida e efetiva”, Erdogan estabeleceu um estado de emergência. A medida dá ao presidente o poder de governar por decreto, à revelia do Parlamento, e restringe liberdades individuais.
Desde então, 55 mil pessoas foram presas, inclusive líderes de partidos da oposição, e mais de 140 mil funcionários públicos foram exonerados, dentre os quais 10 mil militares, 8.500 professores e 4.400 juízes e promotores. Em um único decreto emitido nesta sexta (14), 7.300 servidores foram demitidos.
As autoridades também fecharam o cerco contra a imprensa, encerrando 149 veículos População: 79 milhões (equivalente a SP, MG e RJ juntos) Área: 784 mil km² (menor que o MT) PIB: US$ 857 bilhões (equivalente a SP, RJ e RS juntos) IDH: 71º (Brasil é 79º)