Cultivo de coca na Colômbia cresce 52%, afirma ONU
Área de plantio chegou ao nível mais alto em 20 anos e já ocupa o equivalente ao município de São Paulo
Alta é atribuída ao fim da fumigação das áreas de cultivo pelo governo Santos, decisivo para o pacto de paz com as Farc
A área destinada ao cultivo de coca na Colômbia atingiu 146 mil hectares —o equivalente à cidade de São Paulo— em 2016, crescimento de 52% ante o ano anterior.
Os dados são de um relatório da ONU divulgado nesta sexta-feira (14), que aponta o nível mais alto de produção de coca em 20 anos, desde o início da ajuda dos EUA para erradicar o cultivo da planta, o principal ingrediente usado para produzir cocaína.
O relatório da ONU confirma o resultado de um estudo do governo americano publicado em março, que já indicava um forte crescimento no cultivo da coca na Colômbia.
A elevação assinala uma tendência iniciada em 2013. A alta é atribuída em parte ao fim da fumigação das áreas de cultivo, incentivada pelos EUA. A política foi suspensa em 2014 pelo presidente colombiano, Juan Manuel Santos, devido aos riscos à saúde da população vizinha.
O governo alega que a Corte Constitucional acolheu argumento de ambientalistas amparados por estudo da Organização Mundial da Saúde sobre possível vínculo do uso do pesticida glifosato com alguns cânceres.
O presidente também garantira às Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) que as fumigações, que afetavam seus acampamentos na floresta, iriam parar. O gesto foi decisivo para que a guerrilha seguisse negociando o acordo de paz assinado no fim de 2016.
“O relatório mostra uma perspectiva complexa com dados que indicam uma situação preocupante, mas também um cenário que parece propício para uma solução sustentável”, disse a representante da Colômbia no Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime, autor do documento.
Entre os fatores apontados para esse cenário promissor está o acordo de paz com as Farc. Mas há dúvidas de que o Estado consiga reassumir territórios antes controlados pelo crime organizado. Nos últimos meses, gangues têm atuado para tentar preencher o vazio deixado pela “aposentadoria” de cerca de 7.000 guerrilheiros das Farc.
A produção de cocaína registrou um aumento de 34% no ano passado, ainda de acordo com o relatório.
Os números colocam a Colômbia na liderança da produção mundial de cocaína e da área cultivada de coca. O país também foi o campeão de apreensões de cocaína no ano passado, com 378 toneladas —49% mais que em 2015.
O aumento do cultivo se concentrou em dez municípios colombianos, segundo o relatório, onde são mais rentáveis do que em outras áreas.
“O crescimento se concentrou em zonas que já tiveram coca no passado, não estamos diante de um fenômeno de expansão”, afirmou à AFP Leonardo Correa, coordenador do Sistema Integrado de Cultivos Ilícitos. De 1.120 municípios colombianos, apenas 183 registraram cultivos ilícitos em 2016, nove a menos do que no ano anterior.