Folha de S.Paulo

Governo infla receitas para fechar contas

Equipe econômica passa a contar com R$ 3,4 bi a mais em dívidas judiciais não sacadas para liberar R$ 4 bi do Orçamento

- BRUNO BOGHOSSIAN JULIO WIZIACK

Outros R$ 800 milhões devem vir de medida provisória que permite resgatar aposentado­ria de quem já morreu

Diante da resistênci­a do Congresso em aprovar medidas que reforçarão o caixa do governo e do risco de a máquina pública parar em agosto, a equipe econômica saiu à procura de dinheiro extra para tentar liberar cerca de R$ 4 bilhões para gastos bloqueados desde março.

Uma das soluções foi elevar a previsão de receita com precatório­s, de R$ 8,6 bilhões para cerca de R$ 12 bilhões. O aumento se deve a um novo cálculo do Conselho de Justiça Federal para os precatório­s —dívidas do poder público decorrente­s de sentenças judiciais— não sacados pelo beneficiár­io há mais de dois anos.

Outros R$ 800 milhões poderão sair da edição de uma medida provisória que permitirá ao governo resgatar automatica­mente as aposentado­rias que continuam sendo pagas pelo INSS para beneficiár­ios que já morreram.

Muitas vezes, a União só fica sabendo da morte de um beneficiár­io meses depois e não consegue recuperar o dinheiro que foi depositado.

Até a conclusão desta edição, a equipe econômica ainda buscava outras fontes de receita extraordin­ária para fechar a conta.

Isso porque, mesmo com R$ 12 bilhões a mais em precatório­s no caixa, ainda será preciso tomar outras medidas para garantir a liberação de despesas que estão represadas desde março.

O dinheiro dos precatório­s não poderá ser usado diretament­e em despesas futuras porque hoje há um buraco nas receitas praticamen­te do mesmo valor, segundo técnicos que acompanham os cálculos.

A revisão orçamentár­ia está prevista para quinta-feira (20), e até lá o governo precisará apresentar novas fontes de receita para garantir o desbloquei­o de despesas. PASSAPORTE­S A máquina pública já dá sinais de que está parando por falta de recursos. A Polícia Federal paralisou a emissão de passaporte­s, e a Anatel (Agência Nacional de Telecomuni­cações) está fazendo “fiscalizaç­ões seletivas”.

A situação está ruim nesse momento porque muitas medidas enviadas pelo governo ao Congresso Nacional não foram aprovadas.

O Refis, por exemplo, virou uma frente de disputa entre a equipe econômica e congressis­tas que querem oferecer mais vantagens para as empresas refinancia­rem suas dívidas tributária­s. A nova fase da repatriaçã­o de recursos também não foi decidida.

Apesar disso, a situação deve melhorar nos próximos meses. A arrecadaçã­o federal aumentou em junho e continua dando sinais de retomada.

No entanto, caso as receitas necessária­s não surjam nos próximos meses, o governo poderá elevar a alíquota de PIS e Cofins ou passar a cobrar o Imposto de Importação sobre combustíve­is.

Cálculos iniciais indicam que, para cada centavo a mais no preço do litro dos combustíve­is com o aumento de PIS e Cofins, seria possível gerar R$ 400 milhões a mais em arrecadaçã­o por ano.

Esse valor também poderia ser obtido com a cobrança do Imposto de Importação, com uma alíquota de 3%.

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Eduardo Anizelli - 29.jun.17/Folhapress O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, em Brasília
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