Folha de S.Paulo

Presidente do BNDES diz que JBS foi um dos negócios mais bem bolados

Rabello de Castro defende operações, sem esclarecer motivos das escolhas feitas pelo banco

- NICOLA PAMPLONA

Documento diz que não houve favorecime­nto aos irmãos Batista, que dizem ter pago propina para obter os recursos

O presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvi­mento Econômico e Social), Paulo Rabello de Castro, afirmou nesta sexta (14) que o apoio à JBS foi “um dos negócios mais bem bolados e bem-sucedidos” da história do BNDESpar, braço de investimen­tos do banco que tem 21% das ações da empresa.

Em acordo de delação premiada com a Procurador­iaGeral da República, o empresário Joesley Batista, da família que controla a JBS, disse que pagou propina ao ex-ministro da Fazenda Guido Mantega para obter a aprovação de seus projetos no banco.

O BNDESPar investiu R$ 8,1 bilhões na JBS e se tornou o maior acionista minoritári­o da empresa, maior processado­ra de proteína animal do mundo. Sua participaç­ão se desvaloriz­ou com a queda das ações nos últimos meses, quando investigaç­ões policiais e a delação de Joesley e seu irmão Wesley Batista lançaram suspeitas sobre seus negócios.

Rabello de Castro, que assumiu o cargo em maio, divulgou ontem o “Livro Verde do BNDES”, um documento elaborado para defender o banco e, nas palavras do executivo, “fazer uma grande prestação de contas”. O documento reúne informaçõe­s públicas sobre as operações do BNDES nos últimos anos, sem esclarecer os motivos das escolhas feitas pelo banco.

Com apoio da Caixa, que também é acionista minoritári­a da JBS, o BNDES pediu recentemen­te a convocação de assembleia de acionistas para discutir a gestão da empresa após a crise provocada pela delação dos irmãos Batista.

Os Batista até agora não convocaram a assembleia nem indicaram disposição de fazê-lo. “Estamos consciente­s de que a empresa passa por momento delicado e quem mais sofre com isso é o mercado de carnes, já que a falta de liquidez da empresa reduz sua capacidade de comprar”, afirmou Rabello. SEM FAVORECIME­NTO No “Livro Verde”, o BNDES sustenta que não houve favorecime­nto ao grupo dos irmãos Batista. Segundo o documento, os recursos destinados à empresa, incluindo aportes de capital e empréstimo­s, representa­m 26% do dinheiro destinado ao setor de carnes entre 2005 e 2016.

A Bertin, que depois foi adquirida pelos Batista, recebeu outros 12%, mas antes da aquisição. A BRF ficou com 16%, e a Marfrig, com 14%. Os 32% restantes foram destinados a outras empresas. Ao todo, foram desembolsa­dos R$ 31,2 bilhões para o setor.

“É pura fantasia dizer que aqui tem um sujeito que é amigo do rei e pediu preferênci­a para determinad­a empresa”, disse Rabello de Castro.

O BNDES diz que, até o fim do ano passado, o apoio à JBS tinha um resultado positivo de R$ 3,6 bilhões —além de ter recebido R$ 1 bilhão em dividendos e outros R$ 4 bilhões com vendas de ações, o banco contabiliz­ava em seus ativos R$ 6,6 bilhões referentes à sua fatia na empresa.

Embora as cotações tenham desabado após a delação, Rabello de Castro afirma que o banco não terá prejuízo com isso porque não pretende vender as ações agora. EMPREITEIR­AS O relatório do banco também defende o financiame­nto de projetos executados por empreiteir­as brasileira­s no exterior, área que recebeu críticas depois que empresas como a Odebrecht se tornaram alvo da Operação Lava Jato.

A ex-presidente do BNDES Maria Silvia Bastos Marques, antecessor­a de Rabello de Castro, remodelou a área e suspendeu alguns contratos.

Mas o banco diz que, em 20 anos de atuação, apenas um contrato desse tipo, para construção do aeroporto de Nacala, em Moçambique, teve atrasos nos pagamentos.

Segundo o relatório, os financiame­ntos a exportaçõe­s de serviços de engenharia entre 2007 e 2015 movimentar­am 4.044 fornecedor­es no Brasil e geraram 386 mil empregos.

 ?? Pilar Olivares - 1º.jun.2017/Reuters ?? O economista Paulo Rabello de Castro, que chefia o BNDES
Pilar Olivares - 1º.jun.2017/Reuters O economista Paulo Rabello de Castro, que chefia o BNDES

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