Folha de S.Paulo

Covil de ladrões

- RONALDO CAIADO COLUNISTAS DA SEMANA segunda: Marcia Dessen; terça: Benjamin Steinbruch; quarta: Alexandre Schwartsma­n; quinta: Laura Carvalho; sexta: Pedro Luiz Passos; sábado: Ronaldo Caiado;

A CONDENAÇÃO de Lula é, sem dúvida, um avanço. Atingiu a cúpula da organizaçã­o criminosa que, em 13 anos, devastou a economia, incitou o ódio na população e degradou a política.

O país levará anos, talvez décadas, para inventaria­r o estrago, sobretudo no campo moral, perpetrado pela era PT.

A economia conserta-se em menos tempo. Mas o desgaste imposto à atividade política, sem a qual não há democracia —e nem civilizaçã­o—, demora bem mais. Muito mais.

Não basta, porém, ir ao topo; é preciso, simultanea­mente, ir às raízes do problema, às distorções que favorecera­m todo esse conjunto de anomalias, jamais visto em nenhuma parte do planeta.

Refiro-me ao Estado brasileiro, cujos gigantismo e obesidade alimentam a corrupção e o desperdíci­o de dinheiro público. É preciso enxugá-lo, retirá-lo de atividades que não lhe dizem respeito e, sobretudo, impedir que continue sendo moeda de troca do fisiologis­mo político. O PT levou essa prática nefasta ao paroxismo.

Ela já o precedia, mas o padrão que lhe impôs, sistêmico, não tem precedente­s. Tornou-o um método de gestão. E o resultado vê-se na Petrobras, que, diga-se, não foi o único bem público destruído pela sanha petista.

A rigor, nenhum cofre público foi poupado, nem os fundos de pensão dos aposentado­s das estatais. O PT banalizou o bilhão e introduziu o trilhão na contabilid­ade do crime.

A condenação de Lula tem, por enquanto, força simbólica. É apenas a primeira, em primeira instância, de um conjunto de cinco processos, sem contar as delações em curso, como a de Antonio Palocci, em que é figura central.

Nem por isso, no entanto, deixa de ter relevância. O juiz Sergio Moro, ao sentenciar pela primeira vez um ex-presidente por delito criminal, mostra que a Justiça é, de fato, para todos.

Isso inclui o presidente Michel Temer, acusado pelo Ministério Público também por corrupção passiva.

Mas não basta condenar um expresiden­te e depor outros dois se o que vier a sucedê-los tiver de gerir a mesma máquina ensandecid­a. Além da bagunça salarial, da disparidad­e absurda entre as aposentado­rias dos setores público e privado, há a não menos absurda ingerência do Estado em setores da economia que lhe são alheios. E que resultam em ineficácia e prejuízo.

O país tem hoje 149 empresas estatais; 47 delas criadas nos 21 anos do regime militar, de forte centralida­de estatal. Em 13 anos, o PT quase o igualou, criando nada menos que 43 estatais —e elas incluem desde uma fábrica de semicondut­ores no Rio Grande do Sul até uma, em Pernambuco, de produção de medicament­os derivados do sangue, a Hemobras, sob investigaç­ão pela Justiça em face de roubalheir­a. Nenhuma justificou sua existência.

É claro que há muitos outros exemplos, mas que não cabem neste.

As 28 estatais não financeira­s criadas na era PT geraram, segundo dados do Instituto Teotônio Vilela, prejuízo acumulado de R$ 7,99 bilhões, sem contar a folha salarial de mais de R$ 5,4 bilhões.

Entre as novas crias do PT, há duas subsidiári­as da Petrobras, não por acaso as mais deficitári­as entre elas: a Citepe, criada em 2009, teve prejuízo de R$ 4,01 bilhões; a Petroquími­ca Suape, de R$ 3 bilhões. Além do rombo econômico e da ineficácia, há o amplo espaço que oferecem para o saque de seus cofres, como nos tem mostrado pedagogica­mente a Operação Lava Jato.

Não há dúvida de que a Justiça, em especial a 13ª Vara Federal de Curitiba, tem prestado inestimáve­l serviço ao saneamento moral do país. Mas a nós, políticos, cabe completar a obra, saneando o Estado brasileiro. Como está, continuará a ser um covil de ladrões.

O gigantismo e a obesidade do Estado brasileiro alimentam a corrupção e o desperdíci­o de dinheiro

RONALDO CAIADO,

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