Folha de S.Paulo

USP ganha com cotas, mas debate tem que continuar, afirma reitor

Zago defende política permanente para avaliar impacto e é contra comissão para checar cor da pele

- PAULO SALDAÑA

Reserva de vagas para alunos da rede pública e para pretos, pardos e indígenas já valerá no próximo vestibular

A menos de seis meses do fim do mandato de reitor da USP (Universida­de de São Paulo), Marco Antonio Zago avalia que a recente aprovação de cotas sociais e raciais da instituiçã­o consolida seus planos à frente da mais importante universida­de do país.

“Não tenho dúvida de que a USP só tem a ganhar com o novo perfil de estudantes”, disse Zago, 70, à Folha.

O reitor ressalta, porém, a importânci­a de uma discussão permanente sobre a política —tanto para aprofundar iniciativa­s de inclusão como para acompanhar impactos na qualidade dos ingressant­es. Parte dos críticos fala em riscos ao desempenho da USP.

“Vamos ver os resultados dos próximos anos”, diz. “Mas é muito bom que as pessoas continuem discutindo isso, que haja opiniões.”

O reitor adianta ser contrário a comissões de verificaçã­o de cor de pele para cotistas. Legislaçõe­s municipal de SP e federal já preveem a ferramenta, e a Unesp anunciou comissão específica para atuar em casos de denúncias. “A função da universida­de é abrir suas portas. Em caso de denúncia, [deve haver ação do] Ministério Público e processo por falsidade ideológica.”

O tema cotas sempre foi um tabu histórico na USP —a última a estabelece­r a política entre as universida­des estaduais de São Paulo. No âmbito das federais, a lei de cotas já existe desde 2012.

Mais de 80% dos alunos do ensino médio estão em escolas públicas, mas, neste ano, somente 37% dos ingressant­es da USP vieram dessas unidades. O patamar não se repete em cursos tradiciona­is e concorrido­s, como engenharia e medicina. Esse foi o maior índice já alcançado na USP.

No próximo vestibular, cujas inscrições começam em 21 de agosto, já passa a valer a reserva de vagas, aprovada no último dia 4 pelo Conselho Universitá­rio (instância máxima da instituiçã­o).

Do total de vagas, 37% serão destinadas a alunos de escolas públicas em 2018. A proporção deve subir para 40% em 2019, 45% em 2020 e, finalmente, 50% em 2021.

Dentro da cota, deverão ser reservadas vagas para pretos, pardos e indígenas na mesma proporção da presença dessa população no Estado de SP, segundo o IBGE. Atualmente, esse índice é de 37%.

Até 2021, os índices de inclusão devem ser respeitado­s por curso e turno. A política tem prazo de vigência de dez anos, e uma comissão vai acompanhar os resultados.

Além do ingresso pelo vestibular da Fuvest, a USP inclui, desde 2015, vagas no Sisu (Sistema de Seleção Unificada, que usa a nota do Enem). Parte dessas vagas já é reservada.

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