USP ganha com cotas, mas debate tem que continuar, afirma reitor
Zago defende política permanente para avaliar impacto e é contra comissão para checar cor da pele
Reserva de vagas para alunos da rede pública e para pretos, pardos e indígenas já valerá no próximo vestibular
A menos de seis meses do fim do mandato de reitor da USP (Universidade de São Paulo), Marco Antonio Zago avalia que a recente aprovação de cotas sociais e raciais da instituição consolida seus planos à frente da mais importante universidade do país.
“Não tenho dúvida de que a USP só tem a ganhar com o novo perfil de estudantes”, disse Zago, 70, à Folha.
O reitor ressalta, porém, a importância de uma discussão permanente sobre a política —tanto para aprofundar iniciativas de inclusão como para acompanhar impactos na qualidade dos ingressantes. Parte dos críticos fala em riscos ao desempenho da USP.
“Vamos ver os resultados dos próximos anos”, diz. “Mas é muito bom que as pessoas continuem discutindo isso, que haja opiniões.”
O reitor adianta ser contrário a comissões de verificação de cor de pele para cotistas. Legislações municipal de SP e federal já preveem a ferramenta, e a Unesp anunciou comissão específica para atuar em casos de denúncias. “A função da universidade é abrir suas portas. Em caso de denúncia, [deve haver ação do] Ministério Público e processo por falsidade ideológica.”
O tema cotas sempre foi um tabu histórico na USP —a última a estabelecer a política entre as universidades estaduais de São Paulo. No âmbito das federais, a lei de cotas já existe desde 2012.
Mais de 80% dos alunos do ensino médio estão em escolas públicas, mas, neste ano, somente 37% dos ingressantes da USP vieram dessas unidades. O patamar não se repete em cursos tradicionais e concorridos, como engenharia e medicina. Esse foi o maior índice já alcançado na USP.
No próximo vestibular, cujas inscrições começam em 21 de agosto, já passa a valer a reserva de vagas, aprovada no último dia 4 pelo Conselho Universitário (instância máxima da instituição).
Do total de vagas, 37% serão destinadas a alunos de escolas públicas em 2018. A proporção deve subir para 40% em 2019, 45% em 2020 e, finalmente, 50% em 2021.
Dentro da cota, deverão ser reservadas vagas para pretos, pardos e indígenas na mesma proporção da presença dessa população no Estado de SP, segundo o IBGE. Atualmente, esse índice é de 37%.
Até 2021, os índices de inclusão devem ser respeitados por curso e turno. A política tem prazo de vigência de dez anos, e uma comissão vai acompanhar os resultados.
Além do ingresso pelo vestibular da Fuvest, a USP inclui, desde 2015, vagas no Sisu (Sistema de Seleção Unificada, que usa a nota do Enem). Parte dessas vagas já é reservada.