Folha de S.Paulo

Com política transforma­da em reality show, Emmy politiza suas indicações

Minorias, feminismo e intriga palaciana são temas recorrente­s em séries que disputam prêmio

- LUCIANA COELHO

FOLHA

Já que a política tem funcionado como entretenim­ento da pior espécie, parece natural que o entretenim­ento se transforme em resposta mais político, e eis a edição 2017 do prêmio Emmy —que contempla os melhores da TV americana— para dar prova disso.

Anunciadas na quinta (13), 7 séries concorrem a drama e, destas, 4 abordam o poder.

“The Crown” (Netflix), sobre Elizabeth 2ª, e “House of Cards” (idem), que acompanha a trajetória do deputado fictício Frank Underwood até a Casa Branca, o fazem abertament­e; a magistral “The Handmaid’s Tale” (Hulu) deveria vir com dedicatóri­a feminista ao governo Donald Trump, embora o texto original seja de 1985; e a campeã de indicações “Westworld” (HBO) é mais uma alegoria da opressão das minorias.

A fantasia oitentista “Stranger Things” (Netflix) e a niilista “Better Call Saul” (AMC/Netflix) também são produtos de tempos obscuros; sobra a sensível “This Is Us” —única exibida nos EUA por rede de TV aberta, o que já diz muito— como exemplar revisitado do drama familiar.

Das comédias, três focam minorias: a perspicaz “Atlanta” (FX), a hilária “Black-ish” (ABC) e a doce “Master of None” (Netflix); uma quarta traz um grupo tresloucad­o de párias (“Ubreakable Kimmy Schmidt”, Netflix).

A Casa Branca de “Veep” (HBO) parece menos nonsense perto da de Trump; a inescapáve­l “Modern Family” (ABC) normaliza o casamento gay (um ponto em que o presidente americano é reticenter); e “Sillicon Valey”, embora de forma afável, trata de um ator político hoje crucial nos EUA, o Vale do Silício e seu hiperativo lobby.

É uma lista feliz, com dose de renovação incomum no principal prêmio da televisão.

Há esquecidos, porque nem categorias extensas e afagos às produtoras podem contemplar as mais de 400 séries, mas pode-se dizer que o Emmy desta vez fez jus à vitalidade com que uma arte até pouco tida como menor tem se transforma­do.

A categoria das minissérie­s e séries-antologia (cujas temporadas são independen­tes) continua a captar o que de melhor foi produzido.

Há a sublime “Big Little Lies” (HBO), que trata de competitiv­idade e sororidade; a deliciosa “Feud” (FX/Fox), sobre uma outra era de ouro; a soturna “The Night Of” (HBO), sobre os tropeços da Justiça; a surpreende­nte “Fargo” (FX) e sua coleção de desajustad­os, e “Genius” (NatGeo), para nos lembrar que os EUA tão bem acolheram um refugiado que mudou o mundo, Albert Einstein.

A disputa mais difícil será entre as atrizes de minissérie, com todas do elenco de “Big Little Lies” e “Feud” (espere discursos incisivos na noite da entrega, em setembro).

O elenco feminino do longevo “Saturday Night Live” (NBC), em temporada excepciona­lmente contundent­e, também foi aplaudido com a indicação de três atrizes.

As regras deixaram de fora o fenômeno “Game of Thrones” (HBO), cuja estreia ultrapasso­u o cronograma, mas não havia razão para excluir “The Americans” (FX), uma série sobre a Guerra Fria que de repente ficou atualíssim­a. NA TV Prêmio Emmy 17/9, às 21h, na TNT (DIEGO BARGAS) HBO, 22h, 14 anos DOCUMENTÁR­IO EU NÃO SOU SEU NEGRO O Philos, serviço de TV por streaming especializ­ado em documentár­ios, inclui em seu catálogo esta produção indicada ao Oscar 2017 na categoria. O filme faz uma reflexão sobre a luta por direitos civis dos negros nos Estados Unidos e destaca a trajetória de líderes como Martin Luther King e de movimentos atuais. Philos, R$ 21,90 (assinatura mensal do serviço), 12 anos

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