Folha de S.Paulo

OAS pretende delatar ministros do TCU

Empresa também implica membros de tribunais de contas de Estados em que tinha obras

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Na delação premiada que negocia com procurador­es da Operação Lava Jato, a empreiteir­a OAS apresentou fatos ilícitos que, segundo ela, evolvem ministros do TCU (Tribunal de Contas da União) e conselheir­os de Tribunais de Contas da maioria dos Estados em que a empresa tinha obras.

Segundo envolvidos nas investigaç­ões, executivos da empreiteir­a relataram que integrante­s desses tribunais atuaram a favor da OAS, ajudando em trâmites que deram celeridade a obras e também na liberação de recursos.

Os tribunais de contas são vinculados ao Legislativ­o e têm como principal função a fiscalizaç­ão da correta aplicação do dinheiro público.

A OAS já é investigad­a em Estados como o Rio Grande do Norte devido à construção da Arena das Dunas, em Natal, feita para a Copa de 2014.

Os investigad­ores apuraram a ação do ex-ministro e ex-presidente da Câmara dos Deputados Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) junto ao TCU e ao TCE para liberar parcelas do financiame­nto do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvi­mento Econômico e Social) para o estádio.

O Ministério Público identifico­u pagamentos de propina da OAS e de mais três empreiteir­as para Alves, que está preso desde junho. Participan­tes da negociação do acordo da OAS relataram que os temas da delação já foram fechados com a Procurador­iaGeral da República e com a força-tarefa de Curitiba. O próximo passo é negociar penas e multas a serem cumpridas.

A empresa também promete delatar personagen­s do Judiciário. O diretor jurídico da empreiteir­a, Bruno Brasil, e o sócio e ex-presidente da empresa, Léo Pinheiro, preso em Curitiba, abordam o tema.

Entre os personagen­s que aparecem no acordo estão os ministros do STJ (Superior Tribunal de Justiça) Humberto Martins, atual vice-presidente da corte, e Benedito Gonçalves, conforme revelou a Folha. Os dois magistrado­s negam qualquer irregulari­dade.

Além dos acordos de delação negociados com os executivos do grupo, a OAS tenta firmar a sua leniência com a força-tarefa, espécie de delação premiada da pessoa jurídica que tem como objetivo fazer com que a empresa sobreviva.

Procurador­es relataram à Folha que colocaram na mesa um pedido de multa de R$ 500 milhões para a empresa.

Os advogados do grupo, no entanto, alegaram que a empresa não tem condições de arcar com o valor e, por isso, estão tentando diminuir a cifra.

Um ano depois de ser um dos principais alvos da Lava Jato, em 2014 a OAS entrou em processo de recuperaçã­o judicial. O plano de recuperaçã­o foi aprovado em assembleia geral de credores em dezembro do ano seguinte. A dívida total da empreiteir­a variava entre R$ 9 bilhões e R$ 11 bilhões, em cálculo de 2016.

A empreiteir­a, procurada pela reportagem, não quis se manifestar. (BELA MEGALE)

 ?? Paulo Lisboa - 5.set.2016/Brazil Photo Press ?? O ex-presidente da empreiteir­a OAS, Léo Pinheiro
Paulo Lisboa - 5.set.2016/Brazil Photo Press O ex-presidente da empreiteir­a OAS, Léo Pinheiro

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