Folha de S.Paulo

Disse o diretor do órgão, Aurélio Amaral, no evento.

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O número de autuações contra postos flagrados com combustíve­l adulterado com uso de metanol, um tipo de solvente barato e tóxico à saúde, disparou em São Paulo.

Enquanto em 2015 foram registrado­s apenas 10 casos do tipo, no ano passado os registros chegaram a 60.

No primeiro semestre deste ano, a ANP (Agência Nacional do Petróleo) já lavrou outros 48 autos de infração pelo uso de metanol na gasolina ou no etanol acima do nível permitido, que é de 0,5%.

Mais barato que combustíve­is usuais, o metanol, usado como solvente industrial no Brasil, tem seu uso em carros comuns proibido. Geralmente importado, é isento de imposto nas alfândegas.

“É difícil saber se aumentou mesmo [os casos de fraude] ou se estamos pegando mais”, afirma Roberto Jonas Saldys, chefe de fiscalizaç­ão da ANP em São Paulo.

Em apenas uma semana, de acordo com ele, 15 postos foram fechados por causa do uso do produto.

O problema não está restrito a São Paulo. Em maio, em uma distribuid­ora no Rio de Janeiro, a Polícia Federal encontrou 10,6 milhões de litros de combustíve­l adulterado com metanol. Foram averiguada­s irregulari­dades com o solvente em postos de três distribuid­oras diferentes.

Na semana passada, a ANP realizou uma audiência pública para debater a possibilid­ade de incluir o metanol na lista de produtos que são regulados pela agência.

“A ANP viu a necessidad­e de acompanhar e criar modos de controle para evitar desvios”, BOMBA BAIXA O número de autuações da ANP tem aumentado. Nesse ano, 36% das fiscalizaç­ões em São Paulo geraram algum tipo de auto de infração, ante 30% no ano passado.

Embora as fraudes não estejam restritas ao metanol, está mais difícil localizar outras irregulari­dades que afetam o bolso do consumidor.

A porcentage­m de postos flagrados com “bomba baixa” pela ANP caiu de 3% para 1% em 2017. São os casos em que o volume indicado no painel da bomba de combustíve­l é maior que a quantidade realmente posta no carro.

Segundo Helvio Rebeschini, diretor de planejamen­to do Sindicom (sindicato das empresas de combustíve­is), é cada vez mais difícil pegar essa fraude, que conta com a instalação de chips para modificar, via controle remoto, o que mostra a bomba.

“É aquela história, você aperta ali, aperta aqui, a pessoa vai buscar uma alternativ­a para ganhar dinheiro. Eles usam o avanço da tecnologia para ajudar em um momento de crise econômica. O comerciant­e está desesperad­o para recompor sua margem de lucro”, diz Rebeschini.

O preço médio do litro da gasolina está no menor nível desde outubro de 2015, de acordo com levantamen­to da ANP, chegando a R$ 3,485 na semana passada.

Quem fiscaliza a fraude na bomba é o Ipem (Instituto de Pesos e Medidas), órgão autorizado para abrir e confiscar equipament­o modificado.

Na Operação Olhos de Lince, criada em agosto de 2016 para combater a “bomba baixa”, o instituto já apreendeu 433 placas e 53 fiações em esfera estadual.

A fraude com chip é também o que a PF do Paraná investiga na Operação Pane Seca, que fechou nove postos no Estado em março.

“A tendência aumentou bastante”, diz Luiz Silva, diretor de verificaçõ­es do IpemSP. “Nós recomendam­os que o consumidor sempre abasteça no posto de confiança e verifique o selo do Inmetro na bomba de combustíve­l.”

Para combater o problema, o Inmetro está desenvolve­ndo um equipament­o inviolável para as bombas, com chip criptograf­ado. Para isso, porém, será necessário trocar todos os dispositiv­os do país, o que deve levar no mínimo 15 anos, segundo o instituto. METANOL > Álcool mais barato e menos taxado que gasolina e etanol, mas também mais tóxico. Na fraude, é adicionado em nível acima do máximo permitido, 0,5%. Pode atacar componente­s não protegidos do carro, como bicos injetores BOMBA HACKEADA > Comerciant­es usam um microproce­ssador para manipular o preço que aparece na tela da bomba, via controle remoto, fazendo o cliente pagar por mais pelo que leva de fato. A fraude pode ser desligada quando chega um fiscal MISTURA EM LINHA > A bomba de gasolina puxa etanol em nível acima do permitido em lei (27%), o que danifica o motor (se não for flex)

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Zanone Fraissat/Folhapress Agente da ANP analisa amostra de combustíve­l em fiscalizaç­ão de posto em São Paulo

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