Obra de críticos de cinema é homenageada em dois volumes
DO CRÍTICO DA FOLHA
Vez por outra é preciso ser bem pessoal. No caso do autor de “Cinema de Fato”, minha admiração vem mais de nossas diferenças do que de proximidades. Carlos Alberto Mattos é um crítico paciente, que aprecia observar seu objeto por todos os aspectos, em lugar de extrair um e privilegiá-lo.
Resulta daí a coletânea de artigos que dá conta, por vezes de maneira notável, do documentário em seus vários aspectos.
Existe primeiro o Brasil — as discussões em torno da evolução do gênero no período contemporâneo são ricas, seja porque a ele cabe trazer ao espectador “o fato”, seja porque se há coisa duvidosa neste mundo é, justamente, “o fato”. O que é, quando se manifesta, como a ficção e/ ou a encenação o contamina.
Questão tão mais evidente desde a obra de Eduardo Coutinho nos anos 1990. Mattos percorre de Coutinho a Eduardo Escorel, de Vladimir Carvalho a João Moreira Salles, ora questionando, ora lançando luz sobre natureza da empreitada.
O mesmo tipo de procedimento se manifesta em relação aos documentaristas estrangeiros. Embora não se trate de um trabalho didático, o livro introduz o leitor curioso aos fatos que conformaram a evolução do gênero. ASPECTOS HISTÓRICOS Cada bloco de artigos é organizado segundo o aspecto em maior destaque e sempre precedido por uma introdução. A contribuição de Mattos chega ainda à relevante abordagem dos aspectos históricos do gênero no país.
O que o cinema pode mostrar do Brasil (e que se encontra preservado) é não raro de uma riqueza inesperada (e aterradora).
Como de costume, o livro dispensa um índice onomástico, Trata-se de um lamentável hábito da edição brasileira. No caso, agravado pela falta de notas que completem ou contextualizem devidamente certos artigos.
De outra natureza é o livro “Bernadet 80”, homenagem aos 80 anos de Jean-Claude Bernadet.
Em seus muitos anos dedicados ao cinema. Jean-Claude foi sucessiva ou alternadamente cineclubista, crítico, professor, historiador, roteirista, ator...
Devo estar esquecendo alguma coisa, mas, enfim: é mais fácil enumerar o que Jean-Claude não fez do que o ARAUJO) AUTOR Vários ORGANIZADORES Ivonete Pinto e Orlando Margarido QUANTO R$ 41,87 (228 págs.) AVALIAÇÃO bom