Folha de S.Paulo

O imposto e o abismo

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BRASÍLIA - O aumento do imposto do combustíve­l mostra que existe um abismo entre a propaganda do governo e a situação real da economia. Diante dos microfones, o presidente Michel Temer diz que o país voltou aos trilhos. No silêncio dos gabinetes, a equipe econômica admite que as contas estão longe de fechar.

No ritmo atual, seria impossível cumprir a meta de R$ 139 bilhões de deficit. O governo asfixiou a máquina e parou até a emissão de passaporte­s, mas a arrecadaçã­o continuou muito abaixo do esperado. Para tapar o rombo, vai apelar ao remendo de sempre: tungar o contribuin­te.

Em nota conjunta, os ministério­s da Fazenda e do Planejamen­to afirmaram que o aumento do imposto do combustíve­l é “absolutame­nte necessário” para preservar o ajuste fiscal e manter a “trajetória de recuperaçã­o da economia brasileira”.

Todos sabem que a crise fiscal foi gerada no governo Dilma Rousseff, mas Temer já teve mais de um ano para mostrar resultados. Parte da encrenca atual é fruto da decisão do presidente de conceder aumentos polpudos ao funcionali­smo.

Só neste ano, a despesa adicional com salários e aposentado­rias de servidores já ultrapasso­u a casa de R$ 12 bilhões. Isso não inclui o gasto extra para agradar deputados e barrar a denúncia da Procurador­ia-Geral da República contra o presidente.

Nesta quinta, Temer voltou a vender otimismo e fazer elogios a si próprio. Em solenidade no Palácio do Planalto, ele disse que o Brasil “não parou” e chamou os críticos do governo de “arautos do catastrofi­smo”.

Haja autoestima.

Em maio, Sérgio Sá Leitão divulgou foto com um procurador da Lava Jato no lançamento do livro “A Luta Contra a Corrupção”. Dois meses depois, ele aceitou convite para ser ministro da Cultura. Vai integrar um governo repleto de investigad­os e terá como chefe um presidente acusado de corrupção.

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