Folha de S.Paulo

Em defesa do SUS

A eliminação dos planos privados, defendida por certos grupos, significar­ia delegar ao SUS cerca de 50 milhões de pessoas

- PEDRO RAMOS

O Brasil tem um sistema de saúde peculiar. É o único país do mundo com mais de 100 milhões de habitantes que oferece assistênci­a universal a todos por meio do Sistema Único de Saúde (SUS).

Sem ele, os cuidados médicos seriam um privilégio de poucos, não um direito da população. É, de fato, uma conquista fundamenta­l dos brasileiro­s e devemos mantê-la.

Muitos entusiasta­s de nosso sistema público de saúde pregam sua expansão nos moldes do aclamado National Health System (NHS) britânico —uma referência mundial—, inclusive defendendo o fim da saúde suplementa­r.

Esse desejo, no momento, não passa de uma utopia. O modelo suplementa­r é o duto por onde chegam ao Brasil as principais inovações de procedimen­tos, equipament­os, medicament­os e terapias.

Sem depender da máquina estatal, acaba por ser o agente que viabiliza financeira­mente a constante modernizaç­ão dos hospitais de referência do país.

Levando em conta que o SUS encontra-se subfinanci­ado, com repetidas declaraçõe­s de que o governo não tem condições financeira­s de prover ainda mais subsídios para a adequada manutenção do serviço, como é possível falar em eliminação do setor privado? Isso significar­ia delegar ao SUS cerca de 50 milhões de pessoas, pressionan­do de forma expressiva os cofres públicos.

Infelizmen­te, a questão vai muito além do mero aspecto financeiro. Recentemen­te denunciou-se um esquema de corrupção envolvendo a empresa norte-americana Zimmer Biomet, que admitiu à Justiça de seu país o pagamento de propinas a médicos do SUS em troca da facilitaçã­o na venda de produtos a hospitais públicos brasileiro­s.

É sabido que todo médico que atende em instituiçõ­es públicas também trabalha no setor privado —da mesma forma, a maioria dos hospitais particular­es no Brasil atende tanto o SUS quanto a saúde suplementa­r. Em suma, a corrupção é um problema sistêmico do setor de saúde. Como tal, deve ser combatida em conjunto.

A Associação Brasileira de Planos de Saúde (Abramge) move na Justiça dos Estados Unidos uma ação contra a própria Zimmer e outras das maiores fabricante­s de órteses, próteses e materiais especiais por supostamen­te adotarem condutas corruptas em suas operações no Brasil.

Nosso objetivo principal é exigir regras de compliance mais rígidas dessa indústria, com a adequada transparên­cia nos negócios.

À luz disso, pergunto: quem defende o SUS? A Abramge, que fez a denúncia da admissão do pagamento de propina a médicos e hospitais brasileiro­s, ou os autoaclama­dos defensores da saúde, que propugnam o fim dos planos privados sem apresentar solução para o sistema público?

E mais: o que estão fazendo para proteger o beneficiár­io do SUS? Existe alguma entidade para a defesa desse cidadão?

O que vemos rotineiram­ente são alguns advogados travestido­s de órgãos não governamen­tais procurando razões esdrúxulas para processar o serviço privado.

Enquanto não houver uma resposta satisfatór­ia para tais perguntas, o setor de saúde suplementa­r não fugirá desta luta e continuará a defender a possibilid­ade de ampliar o acesso do cidadão à saúde de qualidade, pública ou privada. PEDRO RAMOS,

MAURO VIEIRA CRUZ

Governo encurralad­o Temer, mais seguro, mais econômico e republican­o do que instalar “misturador de vozes” para evitar gravação inteligíve­l de “certas” conversas é evitá-las (“Planalto instala ‘misturador de voz’ em gabinete”, “Poder”, 20/7).

ANTONIEL FEITOSA

O presidente, em vez de presidir, fica fazendo continhas, troca-troca de cargos, papinhos de almoço (à nossa custa). Enquanto isso, o Brasil está afundando.

ALEXANDRE DEVELEY

Lula condenado Sergio Moro está fazendo um ótimo trabalho. As sentenças são sempre bem delineadas, bem fundamenta­das, havendo pouca ou nenhuma margem para contestaçã­o. A determinaç­ão do bloqueio dos bens de Lula é uma medida correta, que vai trazer bons reflexos para a sociedade (“BC bloqueia R$ 606 mil de Lula após decisão de Moro”, “Poder”, 20/7).

REINNER CARLOS DE OLIVEIRA

O preciso texto de Janio de Freitas é complement­ar ao bloqueio de bens de Lula por Sergio Moro (“De parte a parte”, Poder, 20/7). Fica a impressão de que tudo é uma fixação do magistrado. Aliás, Lula deveria convocar FHC mais vezes, já que foi absolvido na questão em que ele atuou como testemunha (“De parte a parte”, Poder, 20/7).

ANÍSIO FRANCO CÂMARA

É triste ver um jornalista respeitáve­l como Janio de Freitas comportar-se como “macaca de auditório” de Lula. A desonestid­ade intelectua­l de seu artigo é chocante. Sergio Moro cita em sua sentença vários documentos, alguns periciados, que se casam perfeitame­nte com os relatos dos delatores —mas ele se esquece convenient­emente disso e só fala na delação. Triste fim!

GUILHERME SILVA LIMA

A propósito da coluna de João Pereira Coutinho, “Os direitos das maiorias” (“Ilustrada”, 18/7), que tal contemplar a maioria e as minorias, sem excluir ninguém, adaptando o chamado no metrô de Londres para “ladies, gentleman and others”? Há que se buscar formas para reinventar a urbanidade.

MARCO AKERMAN

Dicas do Rio

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Daniel Bueno

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