Folha de S.Paulo

Empresa de avião de Temer não pode voar

Anac suspendeu o registro da Colt Transporte­s Aéreos, que venceu licitação e forneceu 767 alugado pela FAB Folha

- IGOR GIELOW

Para a Força Aérea, problemas da firma não tiveram impacto no cumpriment­o do contrato de US$ 19,8 mi

A empresa vencedora da licitação para fornecer o novo avião de transporte alugado pela Força Aérea Brasileira, que passou a servir ao presidente Michel Temer em viagens de longa duração, está proibida de fazer operações aéreas no Brasil.

A Colt Transporte­s Aéreos S/A tem seu Certificad­o de Empresa de Transporte Aéreo suspenso desde 3 de novembro de 2016 devido a “deficiênci­a no sistema de registros de panes, de treinament­os de funcionári­os, de controle de itens MEL (Lista de Equipament­os Mínimos) e de execução de tarefas de manutenção”, diz a Anac (Agência Nacional de Aviação Civil).

O contrato com a FAB, contudo, ocorreu antes disso, em 6 de junho. A Força informa que a proibição civil não afetou o processo. “Todos os requisitos operaciona­is contratado­s seguem sendo atendidos plenamente e sem interrupçã­o”, diz a FAB.

A Colt ganhou uma licitação de US$ 19,77 milhões (R$ 71,2 milhões na época), a serem pagos até 2019, para fornecer um Boeing 767-300ER com serviço de manutenção e logística, além de seguro.

É um contrato rígido, que especifica 80% de disponibil­idade mínima do avião e prazos exíguos para resolver problemas, de oito horas quando ele estiver na base a 48 horas, se estiver num aeroporto em outro país.

Ela ofereceu o melhor preço e subcontrat­a outras empresas para cumprir os termos assinados, como a Pulsar, da Califórnia (EUA).

O 767, fabricado em 1992 e que serviu a três empresas aéreas, está no Esquadrão Corsário, no Rio, e já voou 800 horas sem incidentes. Em 6 de julho, foi usado pela primeira vez por Temer como alternativ­a ao Airbus ACJ-319 presidenci­al, para ir sem escalas para a Alemanha.

Conforme a revelou nesta quinta (20), a prática será repetida, iniciando a aposentado­ria do Aerolula em rotas de longa distância.

O 767 voa 11 mil km, contra 8.500 km do Airbus. Consome mais combustíve­l, mas é preciso descontar as paradas e a necessidad­e de hospedar comitivas para se ter uma comparação exata de custos. O governo não os divulga.

A prática da Colt de subcontrat­ar é comum no mercado. Segundo especialis­tas, a empresa deverá ficar com cerca de 20% do valor final.

Ainda assim, segundo alguns analistas ouvidos que pediram reserva, é bastante estranho que o avião em que voa o presidente seja fornecido por uma empresa impedida de operar no país.

Nenhum dos telefones ou e-mails de contato da Colt, da empresa-mãe Colt Aviation ou da irmã Colt Táxi Aéreo estão funcionand­o. A Folha buscou contato, sem sucesso, e deixando recados em telefones e conta de rede social de seu controlado­r, o empresário Alexandre Eckmann.

Ele entrou no mercado de aviação de carga em 2013, em sociedade com um herdeiro da fábrica de chocolates Garoto, após sete anos operando uma firma de táxi aéreo.

Essa empresa teve sua licença cassada definitiva­mente pela Anac em 28 de março de 2016, antes do contrato da FAB, também por problemas técnicos e trabalhist­as.

A Colt Cargo, nome fantasia da Colt Transporte­s Aéreos, tinha um frota de cargueiros com dois Boeing 737400F e um Boeing 757-200F.

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Beto Barata - 7.jul.2017/PR O presidente Michel Temer (PMDB) chega à Alemanha para participar de evento do G-20 em avião alugado pelo governo

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