Folha de S.Paulo

Greve convocada pela oposição tem adesão parcial e violência

- DE SÃO PAULO

A oposição da Venezuela conseguiu adesão parcial à greve geral convocada para esta quinta-feira (20) em repúdio à Assembleia Constituin­te. Pelo menos duas pessoas morreram em confronto entre manifestan­tes e forças aliadas a Nicolás Maduro.

A paralisaçã­o foi engrossada pelos motoristas de ônibus, que pedem ao presidente aumento de 100% na tarifa, e por trabalhado­res do comércio e da indústria, que foram liberados pelos patrões.

Por outro lado, bancários, funcionári­os públicos e da petroleira estatal PDVSA trabalhara­m, assim como empresário­s aliados do chavismo. Isso fez com que o presidente e seus aliados consideras­sem a greve um fracasso.

Em Caracas, a greve reproduziu a polarizaçã­o territoria­l entre governo e oposição. Na zona leste, reduto dos adversário­s de Maduro, lojas e escritório­s amanhecera­m fechados e as ruas foram tomadas por barricadas.

Por outro lado, o centro e o oeste da capital, áreas chavistas, tiveram movimento normal e comércio parcialmen­te aberto. O metrô funcionou, exceto em locais de protestos, assim como postos de gasolina, controlado­s pela PDVSA.

Os poucos ônibus que circulavam estavam superlotad­os e algumas pessoas foram transporta­das nas caçambas de camionetes e caminhões e até em um veículo de transporte da Guarda Nacional.

A lógica se repetiu no interior. Houve paralisaçã­o de transporte privado e comércio fechado em Maracaibo, Valencia, Barinas, Barquisime­to e na ilha Margarita, mas órgãos estatais e bancos funcionara­m normalment­e.

O ex-presidenci­ável Henrique Capriles comemorou a adesão, que, pelas contas da oposição, foi de “85% do país”. “Parece primeiro de janeiro em algumas cidades. Vemos as ruas vazias e boa parte das lojas fechadas.”

Maduro a considerou um fracasso. “O dia em que alguém queira fazer um atentado contra mim ou à democracia, nesse dia é que vocês vão ver de verdade uma paralisaçã­o absoluta.”

Apesar de ter desvaloriz­ado a ação opositora, ameaçou prender o vice-presidente da Assembleia Nacional, Freddy Guevara, que a convocou. “A cela desse rapaz estúpido já está pronta, só falta a Constituin­te. Terrorista imbecil.”

A greve geral é um dos eventos organizado­s pela oposição decorrente­s do plebiscito de domingo (16), em que milhões rejeitaram a troca da Constituiç­ão. Na quarta (19), os antichavis­tas anunciavam os planos para um governo de união nacional. VIOLÊNCIA O dia também foi marcado pelos confrontos violentos entre manifestan­tes opositores e as forças aliadas do governo, que tentaram desmontar as barricadas nas ruas.

Uma pessoa morreu e outras quatro ficaram feridas quando homens dispararam contra uma barreira em Los Teques (a 50 km de Caracas). Segundo testemunha­s, os atiradores seriam membros de coletivos (milícias chavistas).

Outra morte foi registrada em Valencia (noroeste) em confronto entre manifestan­tes e membros da Guarda Nacional, que teve mais seis feridos. Com eles, sobe para 98 o número de mortos nos 110 dias de protestos. Outras 173 foram presas nesta quinta.

Em Caracas, uma cabine da polícia foi queimada após dois grupos de manifestan­tes mascarados brigarem em frente a um shopping no bairro de Los Ruices, o que deu início a seis horas de confronto com a polícia. O governo viu a ação como um ataque à sede da TV estatal, que fica ao lado.

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Carlos Garcia Rawlins/Reuters Manifestan­tes mascarados usam árvore para montar uma barricada na zona leste de Caracas; protestos violentos deixaram dois mortos na Venezuela

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