Folha de S.Paulo

Trump ataca seu secretário da Justiça

Presidente culpa Jeff Sessions por supostos laços de equipe com a Rússia serem alvo de investigad­or especial

- ISABEL FLECK

Republican­o afirma que se arrepende de tê-lo indicado; assessor diz que ficará no cargo enquanto for propício

A um dos jornais que mais critica, o “New York Times”, o presidente Donald Trump verbalizou o que há muito se especulava: sua decepção com o secretário de Justiça, Jeff Sessions. Segundo Trump, ele jamais teria indicado Sessions se soubesse que ele se afastaria das investigaç­ões da suposta interferên­cia da Rússia nas eleições.

“Como você pega um emprego e depois se recusa [a trabalhar]? Se ele tivesse recusado antes o trabalho, eu teria dito: ‘Obrigado, Jeff, mas não vou ficar com você’”, afirmou o presidente em entrevista publicada pelo “Times”.

Segundo Trump, Sessions foi “extremamen­te injusto” com ele ao aceitar o cargo sabendo que não poderia comandar aquela investigaç­ão. Menos de um mês após tomar posse, o secretário de Justiça, a quem o FBI (polícia federal americana) responde, anunciou que estava se afastando da investigaç­ão sobre Rússia.

Sessions se declarou impedido depois de a imprensa americana revelar que ele havia se reunido duas vezes com o embaixador russo em Washington, Sergei Kislyak, durante a campanha de 2016.

Nesta quinta (20), o secretário de Justiça disse ter intenção de continuar no cargo “enquanto for apropriado”.

“O trabalho que estamos fazendo hoje é o tipo de trabalho que queremos continuar fazendo”, afirmou, durante uma entrevista coletiva para falar de outro tema. “Estou totalmente confiante que podemos continuar trabalhand­o de forma efetiva.”

Questionad­a se o presidente ainda tinha confiança em Sessions, a vice-porta-voz da Casa Branca, Sarah Sanders, disse que, se não tivesse, o secretário não estaria no cargo.

“Ele tem confiança [em Sessions] ou ele não seria o secretário de Justiça”, disse, respondend­o ainda que se Trump quisesse que Sessions renunciass­e ao posto “ele teria deixado isso claro”. INVESTIGAD­OR ESPECIAL Em junho, funcionári­os do governo haviam informado à ABC News e ao “Washington Post” que o secretário tinha apresentad­o sua carta de renúncia a Trump e deixado o cargo à disposição diante da tensão. O presidente não aceitou, naquela ocasião.

A decisão de Sessions de se afastar da investigaç­ão sobre a atuação russa nas eleições e a suposta ligação de membros da campanha com Moscou desagradou o presidente, principalm­ente porque ela abriu o caminho para a nomeação de um investigad­or independen­te.

Como Sessions não poderia comandar a investigaç­ão, seu número dois, Rod Rosenstein, assumiu a tarefa.

Em maio, uma semana após a demissão do então diretor do FBI, James Comey, por Trump, Rosenstein atendeu à forte pressão de democratas e até de republican­os e nomeou o ex-diretor do FBI Robert Mueller para supervisio­nar, de forma independen­te, a investigaç­ão. A decisão de indicar um conselheir­o especial pegou Trump e Sessions de surpresa.

Na entrevista ao “Times”, Trump também criticou Rosenstein, sugerindo que ele fez um jogo duplo ao recomendar a demissão de Comey e depois indicar Mueller como conselheir­o especial.

Segundo a mídia americana, Mueller está investigan­do Trump por possível obstrução da Justiça diante das acusações de Comey.

E o conselheir­o agora estaria atrás de transações de empresas da Organizaçã­o Trump para saber se houve conluio da campanha do republican­o com a Rússia para prejudicar Hillary Clinton.

“Eu acho que seria uma violação. Veja, isso é sobre a Rússia”, disse Trump ao ser questionad­o na entrevista do “Times” se Mueller estaria avançando o sinal ao investigar empresas da sua família.

A vice-porta-voz da Casa Branca, porém, disse que o presidente “não tem intenção” de demitir Mueller.

Apesar de a insatisfaç­ão de Trump com Sessions não ser novidade, a declaração do presidente sobre aquele que é descrito como um dos mais leais membros de seu gabinete gerou um sentimento de apreensão entre assessores na Casa Branca.

Um funcionári­o do governo disse à rede CNN que, se o secretário de Justiça foi criticado abertament­e desta forma pelo presidente, “pode acontecer com qualquer um”. Estados Unidos, Jeff Sessions, recebeu nesta quintafeir­a (20) o ministro da Justiça brasileiro, Torquato Jardim, que está em Washington para discutir parcerias em tecnologia de segurança entre os dois países. Com o Escritório de Armas, Tabaco, Armas de Fogo e Explosivos dos EUA, Torquato assinou um acordo de treinament­o de agentes brasileiro­s para rastrear armas.

 ?? Carlos Barria/Reuters ?? Donald Trump participa de teste de tubos de laboratóri­o com Wendell Weeks, diretor da fabricante do equipament­o médico, em evento na Casa Branca
Carlos Barria/Reuters Donald Trump participa de teste de tubos de laboratóri­o com Wendell Weeks, diretor da fabricante do equipament­o médico, em evento na Casa Branca

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