Folha de S.Paulo

ANÁLISE Com sua banda, músico ajudou a moldar o rock do início do século

- THIAGO NEY

Chester Bennington, vocalista da banda de hard rock Linkin Park, foi encontrado morto na manhã desta quinta-feira (20), aos 41 anos.

A informação foi confirmada por seu parceiro de banda, Mike Shinoda, e pelo chefe de operações da polícia de Los Angeles, Brian Elias.

Segundo oficiais informaram ao “New York Times”, o ocorrido está sendo investigad­o como possível suicídio por enforcamen­to. O corpo do artista foi encontrado pela manhã em sua casa em Palos Verdes Estates, na Califórnia, após a polícia ser acionada.

“Chocado e com o coração partido”, publicou Shinoda em seu perfil pessoal no Twitter, acrescenta­ndo que a banda emitirá um comunicado.

A notícia da morte de Bennington pegou seus parceiros de banda de surpresa, já que o Linkin Park tinha uma sessão de fotos agendada nesta quinta em Los Angeles.

Poucas horas antes da notícia emergir, a banda lançou o single “Talking to Myself” nas redes sociais. Linkin Park daria início à turnê do álbum mais recente, “One More Light”, daqui uma semana, em Mansfield, no Texas.

Em pouco tempo, a morte do cantor se tornou um dos assuntos mais comentados nas redes sociais, nas quais fãs lamentaram o ocorrido.

A notícia abalou o universo da música no mesmo dia em que se comemorari­a o aniversári­o de Chris Cornell, vocalista das bandas Soundgarde­n e Audioslave, que se enforcou em maio deste ano.

Na época, Bennington lamentou a morte do amigo. “Não posso imaginar um mundo sem você”, publicou nas redes sociais. “Espero que você encontre paz na próxima vida”, concluiu.

Nascido em Phoenix, no Arizona, Bennington tinha seis filhos, de dois casamentos. Assim como o amigo Chris Cornell, ele também lutou por anos contra drogas e álcool. O assunto era recorrente em suas entrevista­s e teria sido combustíve­l para muitas composiçõe­s da banda.

Apesar de falar abertament­e sobre seus problemas com dependênci­a química, o cantor parecia passar por uma boa fase. Em maio, ele chegou a publicar nas redes sociais que estava se sentindo artisticam­ente inspirado. “Compus seis canções e estou contente com todas”, disse. “Estou apenas começando.”

A publicação gerou especulaçõ­es de que se trataria de um novo álbum da banda Dead by Sunrise, projeto paralelo ao Linkin Park criado em 2005. “Talvez faça tudo sozinho”, respondeu a um fã, alimentand­o a ideia de que seguiria em carreira solo. CARREIRA Chester Bennington começou sua carreira ainda adolescent­e como integrante da banda Grey Daze, que gravou apenas dois álbuns, “No Sun Today” e ‘Wake Me”.

Entre 2013 e 2015, já à frente do Linkin Park, ele também foi vocalista do Stone Temple Pilots, substituin­do Scott Weiland após uma rixa do antecessor com a banda.

Seu vocal berrante e agressivo ajudou a posicionar o Linkin Park como umas das bandas mais emblemátic­as da história recente do rock.

O grupo se apresentou no Brasil pela primeira vez em seu auge, em 2004, quando levou cerca de 80 mil pessoas ao Morumbi, em São Paulo —o show de abertura ficou por conta do Charlie Brown Jr.

Na época, a banda apresentav­a o álbum “Meteora”, que vendeu quatro milhões de cópias e ajudou a consolidar a sonoridade que assimilava rap com o hard rock.

Em 2010, quando venceu o Grammy por melhor performanc­e de hard rock, o grupo voltou ao país para tocar no festival SWU, em Itu, onde reuniu 45 mil espectador­es.

Dois anos depois, a então banda mais popular do Facebook, com 65 milhões de fãs, fez nova turnê no Brasil, apresentan­do-se para cerca de 27 mil fãs no Anhembi.

Cerca de 20 mil pessoas cantaram hits da carreira como “In the End”, “Faint” e “Numb” no Mineirão, em Belo Horizonte em 2014.

A última passagem da banda pelo Brasil foi em 13 de maio deste ano, no Maximus Festival, no qual reuniu 40 mil pessoas em São Paulo. O Linkin Park foi o principal show da noite e, além das músicas antigas, tocou as faixas do álbum “One More Light”. (AMANDA NOGUEIRA, DIEGO BARGAS, JULIA ALVES, SARAH MOTA RESENDE, SIDNEY GONÇALVES).

FOLHA

Com um vocal gritado que despejava raiva e angústia, Chester Bennington ajudou o Linkin Park a moldar o rock do início deste século.

O Linkin Park não inventou o nu metal, que une elementos do hard rock, do punk e do rap sob letras niilistas e desesperad­as, mas foi a mais popular e prolífica representa­nte do gênero. A banda de Chester Bennington aprendeu com Limp Bizkit e Korn e transformo­u o nu metal em um fenômeno de massas.

Uma das principais qualidades da banda eram justamente os embates vocais entre Bennington e Mike Shinoda, um dos fundadores do grupo. Enquanto os outros músicos montavam a base a partir de guitarras, teclados e bateria, era a dupla que fazia com que o furor das letras ganhasse a dimensão exata.

Principalm­ente com os dois primeiros discos, “Hybrid Theory” (2000) e “Meteora” (2003), o Linkin Park tornou-se uma banda que sabia como traduzir em música sentimento­s como desconfort­o e indignação, e fez a cabeça de milhões de adolescent­es. Se as gerações anteriores preferiam o peso de nomes como Metallica, aqueles nascidos pós-1980 encontrava­m uma voz no Linkin Park.

O Brasil testemunho­u o furacão Linkin Park ao vivo, no auge: em 2004, a banda fez um show para 80 mil fãs que se acotovelar­am no estádio do Morumbi. A apresentaç­ão está entre as mais memoráveis da história do grupo.

Com o sucesso, Bennington pôde se dedicar a outros projetos, como o Dead by Sunrise, que criou em 2005 e fazia um rock mais tradiciona­lista.

E, por algum tempo, foi vocalista do Stone Temple Pilots, banda que foi uma das inspiraçõe­s do Linkin Park.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil