Folha de S.Paulo

SP cede à União ‘detector’ de fraude na saúde

Sistema paulista que permite controlar a judicializ­ação será implantado em todos os Estados e municípios do país

- CLÁUDIA COLLUCCI

Cruzamento de dados do software mostrou que 25% das drogas pedidas na Justiça já estão disponívei­s no SUS

O governo do Estado de São Paulo vai ceder ao Ministério da Saúde um sistema que controla a judicializ­ação da saúde e consegue detectar fraudes em ações que pedem medicament­os de alto custo.

O software, chamado de Sistema S-Codes, começou a ser implantado no Estado de São Paulo a partir de 2005. Nele são cadastrado­s dados sobre pacientes, médicos prescritor­es, advogados que entram com as ações e juízes que emitem as sentenças.

O sistema permite conhecer, por exemplo, o volume de condenaçõe­s, remédios mais solicitado­s e regiões onde há maior demanda de ações, proporcion­almente ao número de habitantes.

Também é possível cruzar dados e saber se os pacientes que entram com ações são usuários do SUS ou de serviços privados. Em São Paulo, 60% das decisões judiciais resultam de prescriçõe­s de médicos de consultóri­os, clínicas e hospitais particular­es.

O cruzamento de dados revelou ainda que 25% dos medicament­os pedidos via judicial já são oferecidos pela rede pública. Os pacientes requerem versões produzidas por outras empresas ou com incremento tecnológic­o.

“Ter informaçõe­s sobre onde está ocorrendo mais judicializ­ação e o seu perfil faz toda a diferença, permite decisões mais acertadas, oferecer ao juiz subsídios sobre a pertinênci­a ou não e, principalm­ente, nos programar. Meu dinheiro é um só e preciso prever o tamanho do furo no ano seguinte”, diz David Uip, secretário de Estado da Saúde.

O termo de permissão para o uso do software será assinado no próxima quinta (27), por Uip e o ministro da Saúde, Ricardo Barros.

Segundo o ministro, a meta é implantar o sistema em todos os Estados e municípios brasileiro­s como uma forma de gerenciar as demandas judiciais que, em 2016, consumiram R$ 7 bilhões da União, Estados e municípios.

Só o ministério teve gastos na ordem de R$ 1,6 bilhão. O Estado de São Paulo desembolso­u R$ 1,2 milhão.

Além disso, segundo ele, o ministério está realizando auditorias em todas as liminares. “Receitas sem laudo médico nós não vamos cumprir, vamos devolver para o juiz.” No domingo (16), a Folha revelou que a União vem descumprin­do decisões judiciais que determinam remédios de alto custo. O ministério diz que burocracia­s com a importação atrasam a entrega.

Outra finalidade do sistema é a detecção de fraudes. Em 2015, a Corregedor­ia Geral da Administra­ção e a Polícia Civil desmontara­m um esquema que causou prejuízo estimado em R$ 40 milhões ao governo paulista.

A lopidamida, remédio para tratar hipercoles­terolemia homozigóti­ca (um tipo de colesterol raro e grave), estava sendo receitado por médicos a pacientes que não possuíam a doença e requerida via judicial. Cada comprimido custa em torno de US$ 1.000.

“A gente começou a ver coisas que não faziam sentido, como, em um determinad­o local, um número de pacientes com essa doença muito acima do máximo esperado pela literatura para uma doença rara”, diz Uip.

Segundo ele, as investigaç­ões mostraram que, via de regra, o paciente foi enganado por médicos e advogados, a serviço de farmacêuti­cas.

Uip defende que pedidos de remédios que não estejam na lista do SUS sejam feitos por meio da via administra­tiva. “É possível negociar a compra, fica mais barato.” TATI BERNARDI A colunista está em férias.

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