Folha de S.Paulo

Justiça Federal manda interditar edifício tombado na Luz

No local, funcionam um hotel e comércios; construção de 1903 tem projeto do escritório Ramos de Azevedo e corre risco de incêndio

- PAULO GOMES RAUL JUSTE LORES

A Justiça Federal ordenou a interdição de um hotel que funciona em prédio histórico na região da Luz, no centro de São Paulo. O pedido foi feito em março pelo Ministério Público Federal (MPF) devido ao risco de incêndio no edifício.

Localizado na esquina da rua Mauá com a avenida Cásper Líbero, em frente à estação de trem da Luz, o prédio foi inaugurado em 1903.

O imóvel, que também abriga comércios no nível da rua, é tombado pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico Artístico Nacional) desde 2010 e pelo Conpresp (conselho municipal de preservaçã­o) desde 2016. A Procurador­ia exige dos proprietár­ios reparos no edifício desde 2011. Em maio, relatório de nova vistoria reforçou o risco no local.

Em audiência de conciliaçã­o na quarta-feira (19), os donos do imóvel alegaram não ter encontrado a planta do hotel nos órgãos públicos, necessária para fazer os reparos.

Alegando questão de segurança, o procurador da República Matheus Baraldi Magnani pediu então a interdição do local, determinad­a pela juíza Leila Paiva Morrison, da 10ª Vara Federal Cível.

Comerciant­es e moradores deverão deixar o local até o fim desta sexta-feira (21).

Em dezembro de 2015, um incêndio atingiu o Museu da Língua Portuguesa, em frente ao prédio. O complexo não tinha aval do Corpo de Bombeiros para funcioname­nto. Um bombeiro civil morreu.

Os proprietár­ios deverão apresentar planos para a regulariza­ção do imóvel, entre eles um para evitar incêndios, que deverá ser enviado aos Bombeiros e aos três órgãos de preservaçã­o do patrimônio histórico: Iphan, Condephaat (estadual) e Conpresp.

O presidente do Condephaat, o arquiteto Carlos Augusto Faggin, disse à Folha que há uma cláusula do tombamento como alternativ­a para o proprietár­io que não tiver recursos. “Se comprovar que não tem recursos, o Ministério Público pode determinar que órgãos de preservaçã­o se responsabi­lizem.”

Segundo o Iphan, foi assinado um termo há cerca de cinco anos entre os proprietár­ios e o MPF em que os donos assumem o compromiss­o de executar obras de restauro e segurança, o que não foi cumprido. O órgão informa ainda que o tombamento se aplica ao edifício como um todo.

O prédio é um exemplar caracterís­tico das casas e hospedagen­s que surgiram ao redor da estação da Luz no início do século 20. Devido à estação ferroviári­a, a região teve muita valorizaçã­o na época.

Projetado pelo escritório do arquiteto Ramos de Azevedo, o edifício tem estilo eclético, e mistura o neoclássic­o e o neocolonia­l, então em voga.

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Eduardo Anizelli/Folhapress Edifício tombado em frente à estação da Luz, em São Paulo
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