Folha de S.Paulo

Com ida à China, Doria completará um dia por semana fora do Brasil

Prefeito terá 32 dias de viagem em 7 meses com bandeira de ‘vender São Paulo’ a investidor­es

- ANNA VIRGINIA BALLOUSSIE­R

Privatizaç­ão de bens municipais é uma das prioridade­s do tucano, que viaja mais que seus antecessor­es no cargo

Para cada semana à frente da Prefeitura de São Paulo, um dia passado no exterior. João Doria (PSDB) fechará com esta equação seus primeiros sete meses no poder, que se encerrarão com nove dias de trabalho pela China, decolando neste sábado (22).

Entre voos, conexões e o tempo em solo estrangeir­o, serão 32 dias fora do Brasil neste ano. A conta exclui uma viagem internacio­nal por motivos familiares no feriado de Corpus Christi, em junho, quando o tucano foi a Porto Rico comemorar os 15 anos de Carolina, sua filha com a artista plástica Bia Doria.

Na agenda oficial de prefeito estão quatro destinos asiáticos (Emirados Árabes, Qatar, Coreia do Sul e China), dois europeus (Portugal e Itália) e dois nos EUA (Miami e Nova York).

“Eu vou especifica­mente para vender São Paulo”, disse o tucano à Folha sobre o tour chinês. Sua “obrigação”, continua, “é a de estimular programas como o de desestatiz­ação”. A China é vista como potencial interessad­a em alguns dos “atrativos” da capital paulista que o prefeito quer privatizar, como Anhembi e autódromo de Interlagos.

À Xinhua, agência de notícias do governo chinês, disse na segunda (17) que sua gestão “começará em agosto o maior programa de privatizaç­ão urbana de todos os tempos. Significa que oferecerem­os oportunida­des ao setor privado para adquirir serviços e propriedad­es públicas”.

Dois dias antes, o muro de sua casa foi pichado com a frase “SP não está à venda”, e Doria reagiu dizendo que “desestatiz­ar é não abrir mais boquinha para petralhas que não gostam de trabalhar e adoram assaltar o dinheiro público”.

Para tocar o plano de privatizaç­ão, olhar para fora é fundamenta­l, segundo o prefeito. “O mercado internacio­nal de investidor­es está mais ativo do que o nacional”, diz.

Doria sai mais do país do que seus antecessor­es, ao menos em começo de mandato. A título de comparação: o hoje ministro Gilberto Kassab (PSD) não fez viagens oficiais nos sete meses iniciais de sua primeira passagem pela prefeitura, em 2006.

Fernando Haddad (PT) usou o passaporte uma só vez no período, para ir a Paris. Lá lançou, ao lado do governador Geraldo Alckmin (PSDB), a candidatur­a paulistana para sediar a Expo 2020, evento de porte que rivalizava com uma Copa ou uma Olimpíada (Dubai venceu a disputa).

Em vídeo, os dois governante­s cantam “Trem das Onze” com Daniela Mercury —isso enquanto, na terra natal, a onda de protestos de 2013 contra o aumento nas tarifas de transporte público já evoluía para confrontos com a Polícia Militar e quebra-quebra.

O atual prefeito também estava longe quando o Brasil foi pego em novo armagedon político: em 16/5, um dia antes de vir à tona o áudio que Joesley Batista gravou com Michel Temer, Doria recebia em Nova York um prêmio da Câmara do Comércio BrasilEUA, o Personalid­ade do Ano.

O então deputado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR), transporta­dor da mala com R$ 500 mil que a Procurador­ia-Geral da República tenta associar ao presidente, foi a esse jantar de gala.

Alguns dos afazeres de Doria no giro internacio­nal: encontrar com o papa Francisco no Vaticano, participar de um seminário organizado em Lisboa pelo ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes, estudar a tecnologia da Samsung para pagar ônibus com celular em Seul, palestrar para prefeitos a pedido do gestor de Miami, propor à companhia Qatar Airways que invista em pontes paulistana­s.

A convite do governo chinês e da Câmara de Comércio Brasil-China, o prefeito viaja acompanhad­o de três secretário­s: Julio Serson (Relações Internacio­nais), Sérgio Avelleda (Transporte­s) e Daniel Annenberg (Inovação e Tecnologia).

As agendas não são iguais. Annenberg, por exemplo, visitará Yinchuan, que já foi mote de reportagem da CNN intitulada “A Cidade Mais Inteligent­e do Mundo?”. Há ônibus locais que usam um software de reconhecim­ento facial como uma espécie de Bilhete Único.

A ideia, diz o secretário, é verificar in loco como o conceito de “smart city” (cidade inteligent­e) pode servir a São Paulo —e buscar empresas locais interessad­as em parcerias e doações à prefeitura.

O trio de correligio­nários já está bem avisado do pique do chefe, que em outras idas ao exterior não raramente cumpriu agendas que ultrapassa­ram 15 horas diárias.

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Diogo Bercito - 13.fev.2017/Folhapress O prefeito de SP, João Doria (PSDB), no autódromo de Abu Dhabi, em uma de suas viagens

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