Filha de Adhemar critica descaso com o pai
Para Adyel Silva, COB errou ao não batizar nenhum aparelho com nome do 1º bicampeão olímpico do país
MEMÓRIA
Em 23 de julho de 1952, as cerca de 70 mil pessoas que tomavam as arquibancadas do Estádio Olímpico de Helsinque, na Finlândia, presenciaram uma proeza histórica.
O brasileiro Adhemar Ferreira da Silva, então com 25 anos, havia obtido índice para a disputa final do salto triplo. Ele saltou seis vezes e bateu o recorde mundial em quatro. Marcou 16,05 m, 16,09 m, 16,12 m e, enfim, 16,22 m.
O paulistano se tornou o primeiro campeão olímpico da história do atletismo do país. Antes dele, só Guilherme Paraense, do tiro, havia conseguido o ouro em uma edição dos Jogos, na Antuérpia (Bélgica), em 1920.
Depois de 65 anos da conquista em Helsinque, Adyel Silva, a filha única de Adhemar, afirma que o COB (Comitê Olímpico do Brasil) ignora a memória do seu pai.
Nascido em 29 de setembro de 1927, Adhemar completaria 90 anos daqui a dois meses. Apesar da efeméride, não há previsão de homenagens, de acordo com Adyel, 61.
O desapontamento da filha não vem de hoje. “É uma desfaçatez o país inaugurar aparelhos olímpicos [refere-se aos Jogos de 2016] e não batizar nenhum com o nome do atleta que trouxe o segundo e o terceiro ouros olímpicos para o Brasil.”
O segundo ouro de Adhemar foi obtido em Melbourne, na Austrália, em 1956 (ele ainda participou de Londres-1948 e Roma-1960, mas não chegou ao pódio).
Ao longo do século 20, nenhum outro brasileiro igualou Adhemar como bicampeão olímpico. O feito só foi alcançado em Atenas-2004 pelos iatistas Robert Scheidt, Torben Grael e Marcelo Ferreira e pelos jogadores de vôlei Giovanni e Maurício.
Adyel continua: “O [Carlos Arthur] Nuzman [presidente do COB] deveria ser questionado. Roberta Gesta de Melo.
Pelo primeiro lote, que incluía um dos ouros, Gesta de Melo pagou R$ 15 mil.
Adyel negociou parte do espólio sob a condição de que as peças não saíssem do Brasil. Medalhas e troféus estão na Galeria Olímpica de Manaus, aberta ao público.
“A medalha é minha, faço o que quiser. Mantive a dignidade que o meu pai me ensinou”, respondeu Adyel a um atleta que a criticou na época da venda.
Ex-cantora, ela desenvolve hoje um projeto social para difundir o atletismo entre as crianças em Miracatu (SP), no Vale do Ribeira. Adyel tem o apoio do Sesi e da Caixa. CIGARRO