Folha de S.Paulo

Filha de Adhemar critica descaso com o pai

Para Adyel Silva, COB errou ao não batizar nenhum aparelho com nome do 1º bicampeão olímpico do país

- NAIEF HADDAD SEXTA-FEIRA, 21 DE JULHO DE 2017

MEMÓRIA

Em 23 de julho de 1952, as cerca de 70 mil pessoas que tomavam as arquibanca­das do Estádio Olímpico de Helsinque, na Finlândia, presenciar­am uma proeza histórica.

O brasileiro Adhemar Ferreira da Silva, então com 25 anos, havia obtido índice para a disputa final do salto triplo. Ele saltou seis vezes e bateu o recorde mundial em quatro. Marcou 16,05 m, 16,09 m, 16,12 m e, enfim, 16,22 m.

O paulistano se tornou o primeiro campeão olímpico da história do atletismo do país. Antes dele, só Guilherme Paraense, do tiro, havia conseguido o ouro em uma edição dos Jogos, na Antuérpia (Bélgica), em 1920.

Depois de 65 anos da conquista em Helsinque, Adyel Silva, a filha única de Adhemar, afirma que o COB (Comitê Olímpico do Brasil) ignora a memória do seu pai.

Nascido em 29 de setembro de 1927, Adhemar completari­a 90 anos daqui a dois meses. Apesar da efeméride, não há previsão de homenagens, de acordo com Adyel, 61.

O desapontam­ento da filha não vem de hoje. “É uma desfaçatez o país inaugurar aparelhos olímpicos [refere-se aos Jogos de 2016] e não batizar nenhum com o nome do atleta que trouxe o segundo e o terceiro ouros olímpicos para o Brasil.”

O segundo ouro de Adhemar foi obtido em Melbourne, na Austrália, em 1956 (ele ainda participou de Londres-1948 e Roma-1960, mas não chegou ao pódio).

Ao longo do século 20, nenhum outro brasileiro igualou Adhemar como bicampeão olímpico. O feito só foi alcançado em Atenas-2004 pelos iatistas Robert Scheidt, Torben Grael e Marcelo Ferreira e pelos jogadores de vôlei Giovanni e Maurício.

Adyel continua: “O [Carlos Arthur] Nuzman [presidente do COB] deveria ser questionad­o. Roberta Gesta de Melo.

Pelo primeiro lote, que incluía um dos ouros, Gesta de Melo pagou R$ 15 mil.

Adyel negociou parte do espólio sob a condição de que as peças não saíssem do Brasil. Medalhas e troféus estão na Galeria Olímpica de Manaus, aberta ao público.

“A medalha é minha, faço o que quiser. Mantive a dignidade que o meu pai me ensinou”, respondeu Adyel a um atleta que a criticou na época da venda.

Ex-cantora, ela desenvolve hoje um projeto social para difundir o atletismo entre as crianças em Miracatu (SP), no Vale do Ribeira. Adyel tem o apoio do Sesi e da Caixa. CIGARRO

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Adhemar (1955) João do Pulo (1975) Christian Taylor (2015) Jonathan Edwards (1995) Adhemar em Helsinque-1952
 ?? Karime Xavier/Folhapress ?? Adyel Silva, filha do bicampeão olímpico, em sua casa na Casa Verde, em São Paulo
Karime Xavier/Folhapress Adyel Silva, filha do bicampeão olímpico, em sua casa na Casa Verde, em São Paulo

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