Folha de S.Paulo

Equipe inglesa iguala salários para seus times masculino e feminino

Lewes FC quer atrair atenção para a disparidad­e no futebol entre homens e mulheres

- ALEX SABINO

DE SÃO PAULO

Em dezembro de 1921, a Federação Inglesa proibiu o futebol feminino. Segundo a entidade, o esporte “não era adequado e não deveria ser incentivad­o”. Dias antes, jogo no estádio de Goodison Park, em Liverpool havia atraído 53 mil pessoas. Outras 14 mil comparecer­am, mas não conseguira­m entrar.

Noventa e seis anos depois, o Lewes FC tomou a decisão de igualar os salários das equipes masculina e feminina. É o primeiro clube do futebol europeu a fazer isso.

“Já tivemos momento em que o futebol feminino foi bem sucedido no Reino Unido. Por causa da proibição da federação, praticamen­te desaparece­u. Temos de ajudar no que for possível”, diz à Folha o administra­dor do clube, Stuart Fuller.

Não será uma fortuna. O Lewes é semiprofis­sional. O seu estádio, The Dripping Pan (A Panela Gotejando, em inglês), pode receber três mil pessoas. A decisão de distribuir o dinheiro de maneira igual, sem distinguir gênero, deu ao clube uma fama que nunca havia recebido em 132 anos de existência.

O objetivo é gerar discussão. Tal qual no Brasil, a diferença entre o que os homens e as mulheres recebem é colossal no Reino Unido.

“Nós adoraríamo­s se começasse um debate sobre esse assunto. Tomamos iniciativa­s para que as pessoas saibam a necessidad­e de melhorar as condições das equipes femininas”, completa Fuller.

O time feminino do Lewes tem mais sucesso do que o masculino. Elas estão na terceira divisão nacional. Eles, no equivalent­e à oitava.

A reação do público, no entanto, não tem correlação com os resultados. Os jogos do time masculino costumam atrair mais torcedores. Esse é outro aspecto que os dirigentes gostariam de mudar. Um dos clubes mais populares da sua liga, o Lewes chega a atrair mil pagantes em jogos masculinos. “No feminino, em média, temos 400 pessoas”, diz Fuller.

A ideia de igualar os pagamentos deve atrair mais patrocínio­s e dinheiro a ser dividido entre os elencos. Na temporada passada, o clube arrecadou 80 mil libras (R$ 326 mil). Ainda não há uma previsão para a próxima.

Além dos salários, os recursos disponívei­s para as comissões técnicas dos dois elencos serão os mesmos.

A ideia do Lewes nasceu a partir de campanha batizada de Igualdade FC, que defende modelo sustentáve­l de arrecadar fundos para as equipes britânicas masculinas e femininas em bases iguais.

“Esperamos que isso seja uma fagulha que vai acabar com as desculpas para explicar uma disparidad­e tão grande nos salários”, afirma Jacquie Agnew, diretora do clube que não tem um proprietár­io e pertence aos sócios da comunidade de Sussex, no nordeste da Inglaterra.

É um longo caminho, já que o maior salário do futebol inglês, do francês Paul Pogba, do Manchester United, é de 290 mil libras por semana (R$ 1,2 milhão).

Com sete dias de trabalho, ele conseguiri­a sustentar um clube como o Lewes FC por mais de três anos.

Mas o time semiprofis­sional considera que alguém deveria dar o primeiro passo.

“Homens e mulheres devem ter a mesma chance para obterem o mesmo sucesso”, diz Darren Freeman, técnico do time masculino.

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Time feminino do Lewes FC disputa a terceira divisão do futebol inglês e tem mais sucesso do que o masculino SAÚDE

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