Folha de S.Paulo

Meirelles se movimenta de olho no jogo de 2018

Ministro aproximou-se da maior denominaçã­o evangélica do país

- IGOR GIELOW

Ele foi durante 4 anos presidente do conselho da JBS, empresa que colocou o governo Temer na berlinda DE SÃO PAULO

Apesar de abatido pelo que seus conhecidos chamam de “custo JBS”, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, se movimenta discretame­nte na esperança de que uma conjunção de fatores o coloque no jogo sucessório de 2018. Não será fácil. Ao assumir o “dream team” que o mercado esperava ver na área econômica após a debacle da gestão Dilma Rousseff, Meirelles ganhou em maio de 2016 a aura de presidenci­ável.

A aprovação de medidas como o teto de gastos e a aceleração das reformas trabalhist­a e previdenci­ária no Congresso se uniram a uma série de indicadore­s no início de 2017 apontando para o fim do ciclo de recessão e uma queda brutal na inflação —tarefa combinada de fatores econômicos, ação do BC e também da crise em si.

Ex-banqueiro e ex-tucano que virou homem-forte de Luiz Inácio Lula da Silva durante oito anos à frente do Banco Central do petista, Meirelles, agora no PSD, tinha o nome citado em qualquer conversa de empresário­s sobre 2018, apesar de encarnar a imagem de tecnocrata.

Tudo isso desabou em 17 de maio, com a delação na Operação Lava Jato dos irmãos Batista, controlado­res da JBS —a quem o ministro serviu como presidente de conselho por quatro anos. Até aqui ele passou incólume, mas a retomada econômica foi afetada quando Temer passou a se dedicar a tentar salvar a pele. O custo JBS se materializ­ou: com sorte, a economia rodará a 2,2% na virada do ano.

Queda mais acentuada no desemprego ou retomada de investimen­tos, contudo, ficaram para trás. Na semana passada, a cereja do aumento de imposto para fechar as contas foi colocada no bolo.

Ainda assim, Meirelles mexeu peças. Aproximou-se da maior denominaçã­o evangélica do país, a Assembleia de Deus. Participou de dois encontros grandes com pastores em junho e julho.

Aliados do ministro viram uma busca de apoio político. Outros ponderam o poder de fogo dos evangélico­s na Câmara, com quase 100 de 513 deputados, para ajudar a aprovar reformas e medidas como o projeto que reonera vários setores da economia, vital nos planos do governo.

Esse é o espírito de seus encontros recorrente­s com Rodrigo Maia (DEM-RJ), o presidente da Câmara contrário à reoneração que assumirá o governo se Temer for afastado para ser investigad­o.

Ao mesmo tempo, Meirelles abriu uma conta no Twitter. De 7 de junho para cá, tuitou 91 vezes. Não é exatamente um sucesso de audiência, mas há ali um substrato do que poderia vir a ser usado numa campanha eleitoral.

“A inflação menor assegura maior poder de compra aos brasileiro­s”, escreveu em 26 de junho. No auge da crise política, em 30 de junho, disse que “o importante é que o rumo está certo”.

O chefe do PSD, ministro Gilberto Kassab (Comunicaçõ­es), que assim como Meirelles não concedeu entrevista, diz a aliados que se o partido tivesse candidato ao Planalto em 2018, seria o titular da Fazenda.

A sigla descarta que Meirelles tenha feito algum movimento sem a anuência de Temer. Mais: conta com a hipótese de que Meirelles possa migrar para o PMDB do presidente em algum momento, o que seria bom em termos de capilarida­de e ruim em imagem, dada a brutal impopulari­dade de Temer.

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