Folha de S.Paulo

Capital tem estátua em ouro do presidente e maior índice de mármore branco do planeta

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DE SÃO PAULO

Há dois anos, a devoção mantida pelo presidente Gurbanguly Berdymukha­mmedov por equinos ganhou a forma de uma estátua dele montado num cavalo, numa peça banhada em ouro de 24 quilates e instalada sobre um pedestal de mármore.

Essa rocha esbranquiç­ada, aliás, é matéria-prima para vários edifícios da capital turcomana, Achkhabad. Em 2013, a cidade entrou no “Guiness Book” por ostentar a maior concentraç­ão de mármore branco no mundo: 543 novos edifícios erguidos pela atual gestão.

“Achkhabad perdeu faz tempo seu aspecto soviético e hoje lembra uma assustador­a Las Vegas, com uma estrela gigante no topo do Palácio da Felicidade, um prédio para casamentos que muda de cor”, descreveu o jornal “The New York Times”.

Mas o país pouco tem da “felicidade suprema” evocada em vídeos como o do presidente cantando na TV estatal de suéter verde e violão branco, diz à Folha o ativista Farid Tukhbatull­in.

“Sim, o Turcomenis­tão é comparado à Coreia do Norte e à Eritreia em diversos critérios —democracia, leis, direitos humanos. E é tudo verdade. O número de prisioneir­os é um dos mais altos do mundo —mais de 500 por 100 mil habitantes [o Brasil tem cerca de 300]. Jornalista­s que tentam cooperar com a mídia estrangeir­a acabam na cadeia.”

Dois exemplos: um freelancer conterrâne­o a serviço da Radio Free Europe foi detido em 2015 em “falsas acusações de drogas, após tirar fotos de um parque de diversões”. Um ativista que fotografou trabalho infantil em colheita de algodão teve destino similar. INTERNET A internet cresceu nos últimos anos, mas a conexão ainda é lenta e cara demais, e o acesso a sites “delicados” (como o de organizaçõ­es que denunciam violações) e redes sociais como Facebook e Twitter continua restrito.

A interação com o mundo exterior praticamen­te inexiste. “Em 2015, 913 pessoas conseguira­m um visto turístico. Quase não há investimen­to internacio­nal”, afirma Tukhbatull­in.

Em 2010, o WikiLeaks vazou um documento em que uma representa­nte dos Estados Unidos no país definia o presidente Berdymukha­mmedov como “vaidoso” e “um cara não muito esperto”.

A Folha procurou a missão permanente do Turcomenis­tão na ONU, mas não recebeu resposta. Segundo o Itamaraty, não há representa­ção diplomátic­a do país no Brasil. (ANNA VIRGINIA BALLOUSSIE­R)

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Marat Gurt - 25.mai.2015/Reuters Estátua em ouro do presidente turcomano é inaugurada na capital, Achkhabad, em 2015

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