Folha de S.Paulo

Indústria e expansão do agronegóci­o criam empregos no interior

Quase metade das vagas com registro em carteira está distante das maiores cidades

- MAELI PRADO

O impacto da crise nas grandes cidades, aliado ao bom desempenho do campo, fez aumentar nas regiões mais ricas a oferta de empregos no interior, que já representa quase metade das vagas de trabalho formais do país.

Entre admissões e demissões, o interior criou no primeiro semestre mais de 180 mil vagas com carteira de trabalho, mais que compensand­o o saldo negativo das regiões metropolit­anas, que perderam 154 mil vagas, segundo o Ministério do Trabalho.

Essa expansão, apesar de se concentrar na agropecuár­ia, ocorreu também em outros setores, de acordo com dados colhidos pela Folha no Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desemprega­dos).

A indústria, que eliminou 30 mil vagas nas grandes cidades, criou 56 mil nas regiões mais remotas neste ano. Os serviços perderam 19 mil empregos nas áreas metropolit­anas, mas criaram 62 mil no interior, segundo o Caged.

Essa diferença pode ser explicada principalm­ente pelo boom do campo e seu efeito sobre outros setores. A safra brasileira de grãos deve atingir cerca de 240 milhões de toneladas, mais de 30% do que foi registrado no ano passado.

“O impacto indireto da agricultur­a nessas cidades menores é enorme. A renda é gasta no comércio de móveis, na loja de agrotóxico­s, em caminhões e imóveis. E isso gera mais vagas”, diz Anselmo Luis dos Santos, da Unicamp.

O especialis­ta lembra que o emprego na indústria do interior tende a sofrer menos pois há um movimento, nas últimas décadas, de migração de empresas em busca dos custos mais baixos oferecidos pelas cidades menores.

Em Franca, a 400 km de São Paulo, Alessandro Aparecido Amaral, 17, concluiu o ensino médio e conseguiu o primeiro emprego depois de seis meses de busca —uma vaga de auxiliar de produção numa fábrica de calçados.

“A gente só via o pessoal demitindo, e, no meu caso, a falta de experiênci­a também pesava. Agora parece que começou a melhorar a situação. Pelo menos com o calçado a gente vê isso”, diz Amaral.

Das 6.000 vagas formais geradas neste ano até junho em Franca, de acordo com o Ministério do Trabalho, ao menos 4.200 surgiram no polo industrial calçadista.

“As cidades do interior se desenvolve­ram e começaram a oferecer serviços que antes só estavam disponívei­s nas grandes cidades”, diz o economista-chefe da consultori­a MB Associados, Sergio Vale.

Segundo ele, o ganho de renda se reflete na produtivid­ade: “A alta na renda ajuda no aumento não só da qualidade de vida mas da qualificaç­ão geral da população, o que atrai novas empresas e vira um ciclo virtuoso de expansão dessas economia”.

Nos grandes centros urbanos, por outro lado, a crise eliminou vagas em seis dos oito setores acompanhad­os pelo Ministério do Trabalho.

Dados do Caged mostram que no primeiro semestre deste ano apenas três capitais — Goiânia, Cuiabá (MT) e Boa Vista (RR)— geraram empregos com carteira assinada.

Os dados do Caged dizem respeito apenas a trabalhado­res com carteira assinada e por isso representa­m uma fatia pequena da força de trabalho —cerca de um terço dos que estão ocupados têm registro formal, segundo o IBGE.

Não entram nessa conta os que estão na informalid­ade, funcionári­os públicos e autônomos. Somados, informais e autônomos representa­m um terço da força de trabalho. FERNANDA TESTA,

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