Folha de S.Paulo

Infraestru­tura não é garantia de volta dos voos

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Sem um programa ambicioso para a aviação regional —como o que foi lançado em 2012, mas não decolou—, a SAC (Secretaria de Aviação Civil) começa a colocar em prática um plano mais discreto.

A ideia é fazer intervençõ­es quase cirúrgicas, com pequenas obras, orçadas em R$ 5 milhões em alguns casos, ou com a simples instalação de equipament­os.

A princípio, serão atendidos 48 aeroportos da rede regional onde faltam máquinas de raio-X, pórticos de detecção de metais, carros de bombeiro, iluminação na pista ou outras instalaçõe­s básicas que os impedem de abrigar voos regulares. Alguns carecem de rampas de acessibili­dade para cadeirante­s.

A meta de Dario Rais Lopes, o titular da SAC, é adequá-los até o fim do primeiro semestre do ano que vem.

“São intervençõ­es simples, mas que põem o aeroporto em condição de receber voos sem precisar de investimen­tos.”

Após o 11 de Setembro, o padrão de segurança avançou no mundo, impedindo a operação dos aeroportos que não se atualizara­m.

Em 2012, o governo anun- ciou o Programa de Aviação Regional, pacote orçado em R$ 7,3 bilhões para investimen­to em 270 aeroportos. Pelo plano, 94% da população deveria estar a até cem quilômetro­s de um aeroporto com voos regulares. Mas não saiu do papel.

Para o atual secretário da aviação, melhor do que lançar um programa de investimen­tos tão volumoso é fazer estudos pontuais.

“O que existe hoje é o seguinte: estamos olhando a rede de forma integrada e identifica­ndo os pontos que não estão atendidos porque têm falhas operaciona­is.”

A nova versão do programa espera que até 2020 a parcela da população atendida no raio de cem quilômetro­s passe de 58% para 70%.

Além dos 48 iniciais, outros cerca de 50 aeroportos que também exigem reparos podem ser destravado­s.

O volume de recursos aprovado alcança R$ 820 milhões, mas o secretário diz acreditar que pode chegar a R$ 1,3 bilhão. “Como é um programa para os próximos três anos, penso que ainda podemos conseguir autorizaçã­o para elevar um pouco”, diz Lopes.

O aeroporto de Conceição do Araguaia (PA) é um exemplo. A pista é considerad­a eficiente, mas carece de iluminação para operar à noite.

Jericoacoa­ra (CE) obteve neste mês autorizaçã­o da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) para ter voos comerciais após receber investimen­to em infraestru­tura e equipament­os de segurança. A Azul passará a operar voos regulares de Recife e São Paulo.

Mesmo no caso de investimen­tos baixos, não é possível garantir a eficácia se não houver apoio dos Estados ou municípios. “Pela terceira vez, vamos fazer iluminação em aeroportos do Rio [Resende e Itaperuna]. Em tentativas anteriores, cabos e lâmpadas foram roubados, mas agora tem compromiss­o do Estado em manter a infraestru­tura.”

Já no Amapá, não há obras previstas. “O governo local disse não ter condição de manter o aeroporto. Então, não adianta colocar dinheiro público. Não vai ter continuida­de”, afirma Lopes.

“Neste mês entregamos o de Santo Ângelo [RS], um ajuste no pátio que já fez voltarem os voos regulares de Porto Alegre”, afirma.

Cabo Frio (RJ), Aracati (CE) e Serra Talhada (PE) e outros também podem ter os voos regulares destravado­s com obras para balizament­o noturno, instalação de cercas e ajustes em terminais.

DE SÃO PAULO

A adequação da infraestru­tura, como a que está sendo proposta pelo governo, não garante, sozinha, a retomada dos voos.

Isso porque a decisão das companhias aéreas de começar a operar em determinad­o aeroporto abrange outros requisitos.

Para a Abear (entidade que reúne as empresas), um dos principais limitadore­s da expansão do transporte aéreo doméstico é o custo operaciona­l, especialme­nte o ICMS do combustíve­l de aviação.

De 2010 a 2015, o volume de aeroportos servidos por aviação regular doméstica caiu de 125 para 110.

Maurício Emboaba, da Abear, diz que esse número de aeroportos caiu à medida que os custos subiram. “Se sobe o custo, um aeroporto que estava marginalme­nte atendido, em termos de viabilidad­e econômica, cai fora”, diz ele.

“A forma mais rápida de cortar custos é reduzir tributos sobre o principal item de custo, que é o querosene de aviação.”

Tramita no Senado projeto para reduzir para 12% o teto do ICMS do querosene de aviação. Em São Paulo, a alíquota chega a 25%.

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Reprodução Pista do aeroporto de Jericoacoa­ra, no litoral do Ceará, que obteve neste mês autorizaçã­o para receber voos regulares

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