Cobrança em área urbana preocupa especialistas
DE SÃO PAULO
A implantação de pedágios que flagram a passagem de motoristas por trechos cada vez menores é uma modernização do sistema aprovada por especialistas em transporte por trazer maior “justiça tarifária” nas estradas.
O receio, porém, é de que o excesso desses pontos de cobrança automática leve a uma sobretaxa em áreas urbanas adensadas ou onde os motoristas não tenham outra opção para se locomover.
Pelo sistema que está sendo incentivado pelo governo Geraldo Alckmin (PSDB), em vez de grandes praças de pedágio, as rodovias passarão a ter pórticos que automaticamente identificam a passagem do motorista.
O valor pago futuramente em meio eletrônico pelo motorista será proporcional à quantidade de pórticos por onde passar.
A principal vantagem, de acordo com o governo e especialistas ouvidos pela Folha, é a adoção de um modelo que cobre de maneira mais justa os motoristas em uma rodovia.
Hoje, um condutor que trafegue por 30 km em uma estrada pode não pagar pedágio, a depender do seu ponto de entrada e de saída da via. Enquanto isso, outro motorista, andando cerca de 5 km na mesma estrada, pode ser obrigado a passar por uma praça de pedágio e pagar uma tarifa cheia.
A lógica do modelo Ponto a Ponto é espalhar pelas rodovias sensores que identificam a passagem dos carros num intervalo menor do que a distância atual entre praças de pedágio. A partir disso, os motoristas são cobrados proporcionalmente ao seu deslocamento.
Cerca de 310 quilômetros de rodovias paulistas já têm o sistema implantado. Cada um dos pontos cobra o motorista de R$ 0,90 a R$ 5,80, a depender do local. Na prática, o sistema acaba pegando motoristas que usam a rodovia e que antes não eram tarifados.
O problema, segundo engenheiros de trânsito, é que a grande parte dos carros que hoje não pagam pedágio em rodovias trafega por áreas urbanas.
“Em muitos casos, a rodovia separa bairros do resto da cidade. Quando isso ocorre, geralmente não há alternativa para o motorista se locomover, senão pela estrada”, analisa o consultor em transporte Flamínio Fichmann.
Para ele, nesses casos é preciso evitar que cidades cortadas por rodovias tenham sensores de cobrança. “Senão, o morador terá que pagar pedágio para comprar pão”, diz.
A tese também é defendida pelo engenheiro e mestre em transporte Sergio Ejzenberg. “Na maioria das vezes, quem mora no entorno da rodovia é mais pobre. Se forem cobrados por cada deslocamento, o sistema que deveria trazer justiça tarifária se torna um instrumento de injustiça social.” (FL)