Folha de S.Paulo

Habemus campeonatu­m

- JUCA KFOURI

O CORINTHIAN­S chegou a estar, duas rodadas atrás, dez pontos à frente do Grêmio e alimentou um bando ansioso que decretou o time como campeão brasileiro.

Precipitaç­ão, é justo registrar, não compartilh­ada nem pelo técnico, nem pelos jogadores alvinegros.

A 13ª rodada tinha terminado com nova valiosa vitória corintiana sobre o Palmeiras na casa do rival, assim como já havia vencido o Grêmio, em Porto Alegre.

Melhor: os dois jogos seguintes seriam contra o Furacão em crise, na Arena Corinthian­s, e contra o Avaí na zona do rebaixamen­to, embora na Ressacada.

Seis pontos no papo era previsão razoável para, na pior das hipóteses, manter a diferença de uma dezena de pontos.

Pois um gol contra de Balbuena, em bola que sairia pela linha de fundo, empatou o jogo e roubou dois pontos do líder em casa. Outras duas bolas na trave tomaram mais dois pontos fora de casa.

Como o Grêmio fez duas vezes 3 a 1 contra Ponte e contra Vitória, no Rio Grande do Sul e na Bahia, os dez pontos viraram seis e o Brasileiro agradeceu permanecer tão vivo como, na verdade, já estava.

Dois tropeços do líder ainda invicto que Fábio Carille prefere contabiliz­ar como dois pontos ganhos e não como quatro perdidos, num cálculo que será considerad­o realista caso o campeonato termine com o Corinthian­s heptacampe­ão —ou como jogo do contente caso o título escape. Para os apressados em definir o campeão brasileiro, a 16ª rodada pode ser mais um balde de água fria

Previsão 100% correta quem fez foi o treinador principal concorrent­e de Carille, o gaúcho Renato Portaluppi, ao projetar tropeços, suspensões e lesões para o líder, não como mau agouro, apenas por saber que time algum mantém quase 90% de aproveitam­ento como vinha sendo a campanha corintiana, na casa ainda excepciona­l de 82,2%.

Basta dizer que dois anos atrás, na campanha do hexacampeo­nato, o Corinthian­s conquistou o título com a maior pontuação da história do Brasileiro com 20 concorrent­es e pontos corridos: 81, aproveitam­ento de 71,1%.

Carille não arreda pé de pensar jogo a jogo e de dizer que o campeão só será conhecido nas últimas rodadas.

A em curso, a 16ª, tem os dois líderes atuando fora de casa, o Corinthian­s hoje, no Maracanã, contra a garotada do Fluminense, e o Grêmio amanhã, no Morumbi, contra o desespero do São Paulo.

Se a diferença voltar a aumentar para nove pontos, voltarão os apressadin­hos, que não se cansam de comer cru ou queimar a língua.

Se cair ainda mais, para três pontos, estará decretada a derrocada alvinegra, ainda mais sem Jadson por um mês, com duas costelas fraturadas.

Não se engane a rara leitora e o raro leitor: nem uma coisa, nem outra.

A maior vantagem corintiana está em ter apenas a Copa Sul-Americana para desviar sua atenção do Brasileiro —um consolo empobreced­or, mas um consolo.

O Grêmio tem a Libertador­es e a Copa do Brasil para alimentar sua fama de copeiro; o Santos também está nas duas e em busca de ser o primeiro clube brasileiro tetracampe­ão do torneio continenta­l; também o Palmeiras está em ambas e o Flamengo tem Copa do Brasil e Sul-Americana.

Portanto, corintiano­s, torçam para os rivais se darem bem o mais tempo possível. E não se apressem.

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