Folha de S.Paulo

Mas nem só de pão vive o homem. Digna de nota é a criação

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Tóquio grau de entrada do local e, na rua, meninos brincando com armas de fogo feitas de papelão e fita isolante.

A Flip deste ano será de resistênci­a. Paraty, de seu lado, é terra de piratas e saberá não se dobrar. Como diz Flávio de Araújo, poeta da terra e filho de caiçaras: “É na tempestade que cada um sabe a âncora que tem”. COBRA MÁGICA

Provincian­a e cosmopolit­a, Paraty prestará homenagem à escrita combativa de Lima Barreto. Palco principal dos debates, a igreja matriz (igreja de Nossa Senhora dos Remédios, erguida em 1873) passará por adequações cenográfic­as.

Uma reportagem publicada em maio causou espécie na comunidade católica ao informar que os santos seriam retirados do templo para a realização do evento. Logo a Flip soltou uma nota para desfazer o mal-entendido: o que será removido é o sacrário (pequeno cofre onde se guarda a hóstia).

Segundo uma lenda que ainda atiça a imaginação dos locais, uma cobra repousa naquela edificação, onde uma santa prende a cabeça do réptil. Isso não impede o animal de seguir se espichando em direção ao Pontal, a algumas centenas de metros. Reza a crença que, se alguém tirar a santa do lugar, a igreja afunda e a cobra destrói a cidade. BISCOITO FINO de um novo espaço do Sesc em Paraty. Situada na área urbana da cidade, às margens do PerequêAçu, a nova unidade fica em um terreno de vegetação preservada, com área de 28 mil m².

O espaço será inaugurado com uma exposição de 34 obras do escultor pernambuca­no Francisco Brennand e acolherá atividades culturais ao longo de todo o ano. A NOVA CALIFÓRNIA

No conto “A Nova Califórnia”, de Lima Barreto, uma pequena cidade é levada à loucura depois que o químico Raimundo Flamel revela ter descoberto uma fórmula para transforma­r ossos humanos em ouro. Começa então uma onda de saques a sepulturas: “os mortos eram poucos e não bastavam para satisfazer a fome dos vivos”.

O conflito se estende e leva os habitantes a se matarem uns aos outros. De manhã, o cemitério local tem mais mortos do que recebera desde sua criação. O único personagem que não se envolve na sandice é o bêbado Belmiro, que entra em uma bodega vazia para encher uma garrafa de parati.

A história se passa em Tubiacanga, mas poderia ser ambientada em Paraty —que, segundo alguns, deve seu nome à aguardente citada no conto. Mesmo com a crise, as pousadas estão custando o olho da cara. Tentando defender o seu osso, os proprietár­ios não se dão conta de que podem estar cavando a própria sepultura.

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