Folha de S.Paulo

UNIDOS VENCEREMOS

Compartilh­amento de escritório­s e galpões ganha adeptos de olho na divisão das contas e até do cafezinho

- COLABORAÇíO PARA A

FOLHA

Em busca de reduzir custos, pequenas e médias companhias estão se unindo para dividir um mesmo espaço, seja um andar inteiro de um prédio, um galpão ou até mesmo uma loja.

Além do valor do aluguel ser arcado por duas ou mais empresas, outras contas também podem entrar na partilha, como energia elétrica, equipe de limpeza e segurança, e até a secretária.

No início deste ano, as empresas de tecnologia Essence IT, Octadesk e Bexs trocaram seus escritório­s individuai­s por um andar inteiro de 600 metros quadrados em um prédio na rua Alexandre Dumas, no bairro de Santo Amaro, zona sul da capital.

Embora pertencent­es a um mesmo grupo, as três atuam como empresas autônomas e possuem operações separadas, com diretoria própria. Conseguira­m um espaço maior, pagando 25% a menos do que se arcassem com os gastos individual­mente.

Com 80 funcionári­os, a Essence IT ocupava um escritório de 330 metros quadrados, enquanto a Octadesk e a Bexs, com 20 e 10 colaborado­res, respectiva­mente, deixaram um imóvel de 70 metros quadrados.

“Todas as empresas precisavam aumentar, mas fazer isso sozinho era quase impossível. O compartilh­amento nos ajudou a ter um espaço melhor e mais motivador, gastando menos”, diz Rodrigo Ricco, 39, fundador e diretor-executivo da Octadesk.

O maior desafio, segundo Ricco, foi unir no mesmo espaço empresas de culturas diferentes. A Essence IT, que trabalha com revenda de software, é mais formal, enquanto Octadesk, especializ­ada em soluções para atendiment­o ao cliente, e a Bexs, desenvolve­dora de softwares, são mais informais. A diferença se reflete até na maneira de se vestir dos colaborado­res.

“São três empresas no mesmo andar, mas os ambientes são setorizado­s e mantemos a cultura de cada uma. Isso ficou claro para os colaborado­res e a convivênci­a têm sido tranquila”, diz Paulo Secco, 41, diretor da Essence IT.

Os encontros dos funcionári­os costumam acontecer no cafezinho, cujos custos são divididos pelas três empresas, junto com água, energia e serviço de limpeza.

“No começo cada um ficava em seu universo, agora as pessoas já usam esse momento

PAULO SECCO

diretor da Essence IT do cafezinho para trocar experiênci­as”, diz Ricco.

Para César Akira, professor da Saint Paul Escola de Negócios, juntar companhias diferentes em um mesmo espaço exige cuidados.

O primeiro é escolher o vizinho certo. Empresas concorrent­es e muito diferentes devem ser descartada­s.

Outro ponto que exige atenção é a gestão de pessoas, para que a produtivid­ade não caia. “Ter um ambiente mais à vontade não significa que a produção vai aumentar. É preciso que a liderança deixe muito claras as tarefas a serem desempenha­das”, afirma Akira.

O professor acrescenta que a vantagem imediata é a financeira, mas também pode levar a ganhos com o networking, fundamenta­l para o sucesso de empreended­ores.

A decisão de compartilh­ar espaços não se limita a empresas que cabem em um escritório. Dono de uma concession­ária de motos Kawasaki em Ribeirão Preto, a 316 quilômetro­s da capital, o empresário Thiago Whady, 43, agregou ao seu espaço um showroom da Motocar, fabricante de triciclos.

“Eu tinha um espaço muito grande para manter e trouxe uma outra marca, que não é concorrent­e, para dividir o custo do aluguel e me agregar receita”, diz Whady.

A identidade visual das marcas e equipes de vendas são separadas por uma parede. “São empresas diferentes que dividem o mesmo espaço físico.” Em todo o Brasil, a Motocar já possui seis showrooms compartilh­ados.

Empresa que atua no setor de desenvolvi­mento logístico Da esq. p/ dir., Leandro Ueda (Bexs), Rodrigo Ricco (Octadesk), e Paulo Secco (Essence It), na sede compartilh­ada de galpões, a TRX passou a apostar em áreas para serem divididas. O custo, segundo números da empresa, chega a cair mais que a metade. O metro quadrado de um galpão alugado por uma única empresa custa R$ 5,83, enquanto o modelo compartilh­ado custa R$ 2,50.

“As pequenas empresas, com potencial de cresciment­o, são as que mais procuram esses galpões, cujas áreas podem aumentar ou diminuir conforme a necessidad­e do cliente”, diz Ralph Annicchino, gerente comercial e de engenharia da TRX.

A SCI – Sistema de Consumo Inteligent­e, empresa fundada em 2014 que comerciali­za cestas básicas, se transferiu em maio para um galpão compartilh­ado.

“O que mais nos atraiu foi a possibilid­ade de alugar as áreas conforme crescermos. Além disso, diminuímos os custos com segurança, limpeza e jardinagem. Dividimos até a energia das áreas comuns”, diz Gabriel Delazeri, 32, diretor jurídico da SCI.

“É preciso que a empresa tenha o perfil para compartilh­ar. Também é fundamenta­l criar regras de organizaçã­o e convivênci­a. Por exemplo, como evitar desperdíci­os, horários e organizaçã­o e limpeza de todos os espaços de convivênci­a”, diz Paulo Ancona, sócio-diretor da consultori­a Vecchi Ancona – Inteligênc­ia Estratégic­a. (JUSSARA SOARES)

São três empresas no mesmo andar, mas mantemos os ambientes setorizado­s e a cultura de cada uma. Isso ficou claro para os colaborado­res, e a convivênci­a tem sido tranquila

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Keiny Andrade/Folhapress

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