Folha de S.Paulo

Alice Guy-Blaché, pioneira do cinema

Pesquisas sobre a história do cinema indicam que as mulheres já tiveram um papel bem mais efetivo no comando das produções

- BARBARA STURM

Alice Guy-Blaché realizou o primeiro filme narrativo da história do cinema em 1896. No ano seguinte ela se envolveu na produção de 16 trabalhos e em 1900 foi diretora de produção de 51 curtas-metragens. Mas quem foi Alice Guy-Blaché?

Mesmo pesquisado­res e profission­ais do cinema pouco conhecem a carreira dessa pioneira.

Secretária na Gaumont pouco antes de a empresa migrar da fotografia para o cinema e se tornar o estúdio francês pioneiro na realização e exibição de filmes, Alice acompanhou o início da pesquisa e comerciali­zação de câmeras para registrar e reproduzir imagens em movimento.

Logo após uma demonstraç­ão dos irmãos Lumière, pediu emprestada uma câmera e, com técnicas especiais de fotografia e um grupo de amigos atores, filmou em 1896 o curta-metragem “The Cabbage Fairy” (a fada dos repolhos), inspirado em um famoso conto francês. Foi a primeira pessoa a realizar uma sequência de imagens que contava uma história.

Em 1910, Alice migra com seu marido para os EUA, onde funda o Estúdio Solax, o maior do período pré-Hollywood.

Em 25 anos de carreira, Alice participou da criação de mais de mil filmes, mas apenas nos anos 1980 seu nome começou a ser introduzid­o na história do cinema.

Por que temos um grande filme de ficção sobre a vida de Georges Méliès, outro grande pioneiro francês, e pouco —ou quase nada— se fala a respeito de Alice Guy-Blaché?

Por que as histórias que nos inspiram são tão pouco contadas e interpreta­das por mulheres?

Em tempos em que a igualdade de gênero está em evidência, é louvável que o ano de 2016 tenha batido o recorde de filmes com protagonis­tas femininas em Hollywood.

Dados do Centro para o Estudo de Mulheres na Televisão e Cinema, da Universida­de de San Diego (Estados Unidos), mostram que no ano passado 29% dos cem filmes com maiores bilheteria­s foram protagoniz­ados por mulheres —em 2015, eram 22%.

Já por aqui, de acordo com a Ancine, dos 143 longas brasileiro­s lançados no país em 2016, 29 foram dirigidos por mulheres. Dois deles, também com protagonis­tas femininas, figuram no top 20 de maiores bilheteria­s nacionais do ano passado: “É Fada!” (direção de Cris D’Amato, com a youtuber Kéfera) e “Um Namorado para minha Mulher” (da diretora Julia Rezende, com Ingrid Guimarães).

Quando se pesquisa a história do cinema, porém, descobre-se que as mulheres já tiveram um papel bem mais efetivo no comando das produções. No início do século 20, ou seja, no início da indústria do cinema, a metade dos roteiros filmados nos Estados Unidos foi escrita por mulheres. Hoje tal índice fica pouco acima dos 10%.

Diagnostic­ar qual lugar tem sido atribuído à mulher é uma forma de jogar luz sobre a questão em um setor da arte tradiciona­lmente dominado pelos homens. BARBARA STURM COTIDIANO A imagem acima, que foi publicada junto à reportagem “Sucata histórica”, não é do avião que foi sequestrad­o em 1977, na Alemanha, co- mo informou a legenda. A foto, na verdade, é de um segundo avião, que foi usado para levar os reféns de Mogadíscio, na Somália, a Frankfurt após o fim do sequestro.

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