Folha de S.Paulo

Alvos da Lava Jato tentam abrir mão de foro

Onyx Lorenzoni (DEM) e Ricardo Ferraço (PSDB) pedem que apurações sobre eles sejam remetidas à 1ª instância

- CAMILA MATTOSO LETÍCIA CASADO

Parlamenta­res querem mais celeridade em seus casos; tucano pretende escapar da associação à operação

Alvos da Lava Jato, o deputado Onyx Lorenzoni (DEMRS) e o senador Ricardo Ferraço (PSDB-ES) tentaram uma estratégia inusitada no STF (Supremo Tribunal Federal): pediram para “abrir mão” do foro privilegia­do com o objetivo de remeter para a primeira instância os inquéritos abertos com base na delação da Odebrecht.

A PGR (Procurador­ia-Geral da República), responsáve­l pelos pedidos de investigaç­ão, afirmou em manifestaç­ão no caso de Lorenzoni que o foro é “irrenunciá­vel” —ela ainda não se manifestou sobre a solicitaçã­o de Ferraço.

O senador pediu formalment­e que as investigaç­ões fossem remetidas à primeira instância de seu Estado, apesar de a Lava Jato estar concentrad­a na 10ª Vara da Justiça Federal do Paraná, sob o comando do juiz Sergio Moro.

Ferraço enviou pedido assinado por ele mesmo. Além de renunciar ao foro ele pede que, na hipótese de seu caso permanecer sob análise do STF, que ele seja redistribu­ído para outro ministro que não Edson Fachin, relator das investigaç­ões da Lava Jato.

Os dois parlamenta­res usa- ram argumentos semelhante­s para pedir a renúncia: o artigo 5º da Constituiç­ão, que determina que “todos são iguais perante a lei” e o relatório do ministro Luís Roberto Barroso na ação que discute limitar o foro privilegia­do para os presidente­s dos Poderes.

A ação que discute o alcance do foro começou a ser debatida no plenário do Supremo no fim de maio, mas o ministro Alexandre de Moraes pediu mais tempo para analisar o caso.

Quatro dos 11 ministros já votaram a favor da restrição, mas não há prazo para Moraes devolver o processo à pauta de votações do plenário.

Além dessa ação que tramita no STF, o Senado já aprovou em segundo turno uma PEC (Proposta de Emenda à Constituiç­ão) que põe fim ao foro privilegia­do para parlamenta­res e outras autoridade­s. Os parlamenta­res também afirmam que as investigaç­ões da Lava Jato no tribunal estão lentas. SELO LAVA JATO Políticos têm adotado o discurso de que ao terem casos redistribu­ídos para outros ministros não são mais alvos da Lava Jato. No documento, Ferraço afirma que a extinção do foro “será, então, capaz de promover maior celeridade no processame­nto e julgamento dos casos pelos tribunais superiores”.

Delatores da Odebrecht disseram ter pago R$ 400 mil para sua campanha ao Senado em 2010, quando Ferraço disputou a eleição pelo PMDB.Elenega.

Já os advogados de Onyx, que relatou na Câmara o pacote do Ministério Público de projetos contra a corrupção, alegaram que o STF já tem muito processo para julgar e citaram dados da Associação dos Magistrado­s Brasileiro­s. Segundo a associação, desde 1988, apenas 4,6% das ações penais abertas no STF foram julgadas.

A defesa destacou que os inquéritos abertos na primeira lista do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, em 2015, “até o momento não observaram andamento compatível com a celeridade processual necessária”.

Desde 28 de junho o inquérito de Onyx está com a PGR. As diligência­s da PF ainda não foram concluídas. Delatores disseram que Onyx recebeu R$ 175 mil por meio de caixa dois, o que ele nega.

Em março a Folha mostrou que da primeira lista de Janot apenas 8% dos 50 políticos investigad­os haviam se tornado réus por decisão do STF.

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Edilson Rodrigues/Agência Senado O senador tucano Ricardo Ferraço, do PSDB-ES
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Alan Marques/Folhapress O deputado federal Onyx Lorenzoni, do DEM-RS

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