Folha de S.Paulo

Cabral pede que juiz deixe caso das joias

Defesa de ex-governador solicitou afastament­o de Marcelo Bretas, que teria antecipado sua decisão em entrevista

- ITALO NOGUEIRA

Cabral e ex-primeirada­ma são acusados de lavarem dinheiro com a compra de joias no valor de R$ 4,5 milhões

O ex-governador do Rio Sérgio Cabral (PMDB) solicitou que o juiz Marcelo Bretas se afaste da condução da ação penal que analisa suposta lavagem de dinheiro por meio de joias.

A chamada exceção de suspeição, proposta pelo advogado Rodrigo Roca, argumenta que o magistrado antecipou sua análise em entrevista ao “Valor Econômico”, publicada no último dia 14.

“O que já estamos investigan­do? Transporte, saúde, obras, alimentaçã­o e joias. Mas nessa questão das joias existe uma dúvida. Eu ainda não decidi a respeito, se a joia era propina e ostentação ou se era lavagem de dinheiro. Isso eu tenho que ver com calma”, afirmou o magistrado.

Segundo o advogado de Cabral, “a única ideia que não passa pela mente do juiz federal questionad­o, ao que parece, é a possibilid­ade de uma absolvição”.

“Com este cenário, não há como se negar que o excepto [Bretas] tornou-se absolutame­nte suspeito para seguir na direção do presente processo e, principalm­ente, para julgar a causa em comento”, escreveu Roca.

O pedido refere-se à ação penal na qual o Ministério Público Federal acusa Cabral e a ex-primeira-dama Adriana Ancelmo de suposta lavagem de dinheiro por meio da compra de R$ 4,5 milhões em joias na H. Stern.

A denúncia foi feita com base na delação dos executivos da joalheria, que relataram compras de R$ 11 milhões entre 2007 e 2016, boa parte sem nota fiscal —as demais aquisições estão descritas em outras ações.

Bretas, que deve analisar o pedido após retornar de férias na próxima semana, tem demonstrad­o dúvidas em relação ao crime de lavagem de dinheiro atribuído ao casal por meio de compra de joias.

Para o Ministério Público Federal, a aquisição sem nota fiscal, como relatado pela H. Stern, evidencia a intenção de ocultar o patrimônio –uma forma de lavagem.

Em depoimento, Cabral refutou a tese, embora tenha concordado se tratar de um luxo com dinheiro ilegal. Ele admite ter usado sobras de caixa dois de campanha.

“Ninguém lava dinheiro comprando carro e joias. Quando se compra joias, ela perde valor ao sair da loja. Achar que isso era esconder recursos...”, disse Cabral em depoimento.

Bretas está em férias e não foi localizado.

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Geraldo Bubniak/Agência O Globo O ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral (PMDB), que foi preso pela Lava Jato

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