Folha de S.Paulo

ATÉ O OSSO

Filme lançado pela Netflix sobre distúrbio alimentar é criticado por relato romantizad­o e elogiado por crueza; leia relatos de quem teve o problema

- MARIANA VERSOLATO

A atriz já tinha sofrido de transtorno­s alimentare­s e emagreceu tremendame­nte para fazer o papel —a ponto de estrelar as tais cenas perturbado­ras

“Sempre fui magra, mas, depois que menstruei e comecei a encorpar, passei a me preocupar com isso. Hoje reconheço que era medo de crescer. Alguns gramas a mais já me deixavam preocupada. Eu queria ter controle —do meu corpo, do peso, das calorias.

Quando ficava nervosa, a gastrite atacava. Um dia fiquei doente, fui pra escola sem comer e me senti muito bem, mais leve. Fiz o mesmo no dia seguinte. Ia vendo até quando conseguia. De alguma forma, isso me aliviava.

Até que não conseguia mais comer; quando comia, vomitava. Gostava de ver que estava emagrecend­o, sempre queria perder mais um quilo. Virou vício. Fazia exercícios até de madrugada.

Ao mesmo tempo que eu não queria parar, estava gritando por ajuda. Queria ficar mal para meus pais verem. Um dia disse que não conseguiri­a melhorar sozinha, que precisava que me amarrassem para eu voltar a comer.

Fiquei uma semana internada. Eu me contorcia e chorava porque queria vomitar. Com apoio, fui melhorando. Voltei a querer viver. Aos poucos fui introduzin­do coisas novas na alimentaçã­o até passar a comer de tudo.

O filme tem detalhes que só quem viveu aquilo sabe, me emocionei muito. Quase toda anoréxica tem uma relação meio esquisita com a mãe, quer que a mãe acolha, quer voltar a ser um bebê. Por isso a gente inibe os sinais de cresciment­o.

Não é romantizad­o, é bem bruto, sincero. Os métodos para emagrecer citados são bem conhecidos. Ela diz que tem medo de começar a comer e nunca mais parar, e é assim.

A personagem não sabe o que está acontecend­o, por que não consegue melhorar. É só comer, mas ao mesmo tempo não é. Achei forte, mas é bom que seja assim. As pessoas têm que saber a realidade.

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Divulgação A atriz Lily Collins durante cena do filme “O Mínimo para Viver” em que sua personagem Ellen se pesa em clínica

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