ATÉ O OSSO
Filme lançado pela Netflix sobre distúrbio alimentar é criticado por relato romantizado e elogiado por crueza; leia relatos de quem teve o problema
A atriz já tinha sofrido de transtornos alimentares e emagreceu tremendamente para fazer o papel —a ponto de estrelar as tais cenas perturbadoras
“Sempre fui magra, mas, depois que menstruei e comecei a encorpar, passei a me preocupar com isso. Hoje reconheço que era medo de crescer. Alguns gramas a mais já me deixavam preocupada. Eu queria ter controle —do meu corpo, do peso, das calorias.
Quando ficava nervosa, a gastrite atacava. Um dia fiquei doente, fui pra escola sem comer e me senti muito bem, mais leve. Fiz o mesmo no dia seguinte. Ia vendo até quando conseguia. De alguma forma, isso me aliviava.
Até que não conseguia mais comer; quando comia, vomitava. Gostava de ver que estava emagrecendo, sempre queria perder mais um quilo. Virou vício. Fazia exercícios até de madrugada.
Ao mesmo tempo que eu não queria parar, estava gritando por ajuda. Queria ficar mal para meus pais verem. Um dia disse que não conseguiria melhorar sozinha, que precisava que me amarrassem para eu voltar a comer.
Fiquei uma semana internada. Eu me contorcia e chorava porque queria vomitar. Com apoio, fui melhorando. Voltei a querer viver. Aos poucos fui introduzindo coisas novas na alimentação até passar a comer de tudo.
O filme tem detalhes que só quem viveu aquilo sabe, me emocionei muito. Quase toda anoréxica tem uma relação meio esquisita com a mãe, quer que a mãe acolha, quer voltar a ser um bebê. Por isso a gente inibe os sinais de crescimento.
Não é romantizado, é bem bruto, sincero. Os métodos para emagrecer citados são bem conhecidos. Ela diz que tem medo de começar a comer e nunca mais parar, e é assim.
A personagem não sabe o que está acontecendo, por que não consegue melhorar. É só comer, mas ao mesmo tempo não é. Achei forte, mas é bom que seja assim. As pessoas têm que saber a realidade.