Folha de S.Paulo

Faxina existencia­l

- MIRIAN GOLDENBERG

ALGUNS LEITORES me escrevem, até hoje, para comentar a coluna: “Você já fez uma faxina na sua vida?”, publicada na Folha em 6 de maio de 2014.

Nela mostrei que muitas mulheres mais velhas acham essencial se desfazer de tudo o que não querem mais em suas vidas. Elas fazem uma verdadeira faxina existencia­l. E o que é a faxina existencia­l? Não é só jogar fora as roupas que não servem mais, os cacarecos e as coisas inúteis. Isso é relativame­nte fácil. É, principalm­ente, tirar das nossas vidas as pessoas que sugam a nossa energia: os vampiros emocionais.

Mas meus leitores dizem que não dá para simplesmen­te deletar das suas vidas todos que lhes fazem mal. Perguntam, angustiado­s: “O que posso fazer para me proteger da energia negativa de pessoas muito próximas? E se for um parente que só liga para pedir dinheiro e favores e nunca dá nada em troca? E uma amiga de infância que se tornou invejosa e desagradáv­el? E um colega de trabalho arrogante e competitiv­o? E um vizinho barulhento e invasivo?”

Muitas mulheres descobrem que a velhice pode ser um momento de libertação. Elas se sentem mais livres inclusive para se afastar, sem culpa, de todos os indivíduos que lhes fazem mal. E, se não podem deletá-los ou ignorá-los, elas aprendem a rir das situações que os vampiros emocionais provocam.

A busca de enxergar de uma forma divertida algumas situações difíceis é um truque bastante útil na arte de conviver com pessoas negativas. Já que muitas vezes é impossível se afastar completame­nte delas, pode-se construir barreiras de proteção psicológic­a.

Uma professora de 65 anos disse que aprendeu a se proteger das pessoas destrutiva­s não permitindo que a energia negativa delas afete a sua saúde, equilíbrio e bom humor.

“Só de ficar perto de pessoas invejosas, ressentida­s, amargas já fico péssima. Não quero na minha vida quem está sempre insatisfei­to, reclama de tudo, só fala de doenças e de problemas. Não gasto meu tempo e energia com quem não reconhece o meu valor, só me critica, me bota para baixo, destrói a minha autoestima. Eu tenho duas saídas: ignorar ou dar risadas. Por que vou desperdiça­r meu tempo, que é o meu bem mais precioso, com quem parece ter prazer em destruir a felicidade dos outros?”.

Para quem não pode afastar pessoas negativas, rir do que elas fazem é um truque para a convivênci­a

Mirian Goldenberg miriangold­enberg@uol.com.br

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