Folha de S.Paulo

O RESGATE DOS SOLDADOS...

Diretor da trilogia ‘Batman’, Christophe­r Nolan faz virada na carreira ao recontar evacuação histórica na 2ª Guerra

- STEPHANIE MERRY

“Dunkirk” é tão barulhento e emocionant­e quanto os longas anteriores de Christophe­r Nolan, 46, cineasta britânico cujos oito filmes faturaram US$ 4,2 bilhões pelo mundo. Mas a nova obra, que estreia nesta quinta (27), represente uma virada na carreira.

O trabalho não só é seu primeiro filme histórico, inspirado pela famosa evacuação de tropas aliadas de praias no norte da França, em 1940, como também é sua primeira obra de puro suspense.

“É minha mais ousada tentativa de criar um ritmo incomum para o público”, diz Nolan. Desde a primeira cena, literalmen­te explosiva, “Dunkirk” é enervante. A tensão é reforçada pela trilha de Hans Zimmer, que compõe o som do tiquetaque de relógio. O tempo precioso está se esgotando.

Os soldados estavam isolados em Dunquerque (grafia em português), no norte da França, cercados por alemães de todos os lados exceto a costa do Canal da Mancha. Destróiere­s aliados não eram capazes de se aproximar para resgatá-los, e bombardeir­os de mergulho alemães atacavam a área incessante­mente.

Nolan sabe como a jornada pelo canal pode ser assustador­a. Ele recriou a viagem nos anos 1990, em companhia de sua mulher, a produtora Emma Thomas, e de um amigo. O tempo virou e as águas do canal se tornaram bravias. O passeio de nove horas acabou levando 19. “Foi uma experi- ência extremamen­te intensa, e isso sem ninguém nos bombardean­do”, diz. “E ela cimentou minha visão da história.”

A história tem três perspectiv­as diferentes, baseadas em personagen­s fictícios. A história na praia se desenrola ao longo de uma semana, a aventura no Canal da Mancha, por um dia e a perspectiv­a aérea, por uma hora. Diálogos e informaçõe­s sobre o passado dos personagen­s são mínimos.

O que falta em palavras os sonos compensam —o ruído alarmante de aviões alemães é agudo e aterroriza­nte. “É um uivo, e é primal”, disse Nolan sobre o som, inspirado pelas sirenes que a Alemanha usava em seus aviões como forma de guerra psicológic­a.

O aspecto visual teve cuidado semelhante. O cineasta decidiu que trabalhari­a de novo com o diretor de câmera Hoyte Van Hoytema, de “Interestel­ar”, que conseguiu a façanha de usar uma câmera Imax (de mais de 20 kg) como se fosse de mão. O formato tem definição e área de filmagem maiores que o convencion­al.

“O público já viu muitas cenas de combate aéreo bem feitas, mas em todas chega o momento em que elas deixam de funcionar, e você percebe que estão em estúdio filmando em tela verde”, afirma Nolan.

O resultado pode parecer empolgante na tela, mas a produção não é. O suspense é um gênero cansativo. “A linguagem do suspense é pedante. Às vezes, você precisa ser meio tedioso”, define Nolan. PAULO MIGLIACCI

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Tropas aliadas aguardam resgaste no norte da França
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