Folha de S.Paulo

Magnífico, ‘Dunkirk’ tem o devido respeito pela história

- RICARDO BONALUME NETO

FOLHA

O primeiro-ministro britânico em 1940 estava certo: “Guerras não são ganhas com evacuações”, disse Winston Churchill. Mas se não fosse a retirada de boa parte da Força Expedicion­ária Britânica da cidade de Dunquerque, norte da França, o Reino Unido teria perdido a guerra contra a Alemanha nazista.

Não haveria um “cadre” de tropas regulares para proteger o país e formar novos soldados. E o mundo também perderia. A civilizaçã­o ocidental teria perecido nas mãos de bárbaros modernos equipados com tanques e bombardeir­os liderados por Adolf Hitler, líder supremo do Partido Nacional Socialista dos Trabalhado­res Alemães.

O filme “Dunkirk” mostra como isso quase aconteceu. É uma obra magnífica, e com o devido respeito pela história. A primeira frase que se ouve é “cadê a Força Aérea?”

Os soldados britânicos estavam espremidos na praia, esperando pela evacuação. Os bombardeir­os de mergulho Junkers-87 Stuka jogavam bombas a granel. Bombardeir­os médios Heinkel-111 atacavam os navios tentando evacuar as tropas.

A Força Aérea estava lá, mas as tropas na praia não conseguiam ver. Os combates eram em altitudes ou distâncias longe da vista. Parecia que a RAF (Royal Air Force) tinha esquecido de fazer seu trabalho. Esse é um dos resgates históricos mais bemvindos do filme. Para muitos soldados, os caças Hurricanes e Spitfires não estavam lá, mas estavam. E como.

O melhor livro até agora sobre a retirada de Dunquerque é o do historiado­r Hugh Sebag-Montefiori —“Dunkirk— Fight to the Last Man” (“luta até o último homem”).

Ele conta que a RAF “perdeu 931 aviões, incluindo 477 caças”, sobre a França e a Bélgica. E a Marinha Real (RN, Royal Navy) teve 170 navios perdidos ou danificado­s.

Alguns personagen­s têm base em pessoais reais, como o ator Kenneth Branagh no papel de Bolton, que cuidou da evacuação no píer, baseado no comandante James Campbell Clouston . Morreram cerca de 11 mil soldados britânicos e 90 mil franceses nas campanhas de 1940.

E, a leitura no final, de um dos mais brilhantes discursos de Churchill —“nós jamais nos renderemos”— é uma maneira espetacula­r de terminar um filme idem.

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