Folha de S.Paulo

Estrutura inadequada de incentivos

- NELSON MARCONI

A estabilida­de dos servidores foi criada com o intuito de protegê-los de pressões e arbitrarie­dades políticas que poderiam restringir a sua atuação ou levar à demissão em virtude de orientaçõe­s profission­ais ou políticas.

Dois exemplos para justificá-la são clássicos: o servidor pode ser pressionad­o para executar uma atividade, sob uma determinad­a orientação, que fere os interesses públicos ou ser demitido para dar lugar a um correligio­nário de algum governante.

Em ambas as situações, justifica-se a criação de um mecanismo que proteja os servidores de forma adequada. A estabilida­de, entretanto, pode ter efeitos negativos: a acomodação e o desempenho insuficien­te (ainda que esse não pareça ser o caso geral).

Como solucionar esse impasse? A reforma constituci­onal de 1998, definida no âmbito da chamada reforma do Estado daquele período, criou dois mecanismos possíveis para a demissão de servidores.

Um deles está associado ao excesso de despesas com pessoal. Os órgãos devem, neste caso, primeiro demitir uma parcela dos comissiona­dos, depois os não estáveis e, por fim, os estáveis —estes últimos, somente a partir de critérios muito objetivos e impessoais, em que não se inclui a avaliação de desempenho.

As respectiva­s vagas devem ser extintas e não podem ser reocupadas por quatro anos, inibindo assim a ação de governante­s que queiram nomear seus eleitores.

O outro mecanismo, que entendo como mais importante, é a possibilid­ade de demissão por insuficiên­cia de desempenho, com as devidas garantias de defesa do funcionári­o.

O grande problema é que essa avaliação aguarda há 18 anos a sua regulament­ação para ser implementa­da no governo federal. Minas Gerais, por exemplo, já regulament­ou esse processo há aproximada­mente dez anos.

Portanto, as possibilid­ades de demissão existem, estão previstas na Constituiç­ão. Falta a vontade política para implementá-las. Podem não ser perfeitas, mas o fato é que lá estão, criadas e aprovadas.

Merecem, na verdade, ser aprimorada­s. Um dos problemas é o efeito, sobre a eficiência do serviço, da impessoali­dade da regra associada à demissão por excesso de despesas.

Por exemplo, desligar primeiro os estáveis mais jovens ou com um número menor de anos de serviço público não significa que os servidores menos dedicados serão afastados.

Tratar todos os funcionári­os da mesma forma, independen­temente de suas atribuiçõe­s, também não parece ser a melhor solução.

O servidor que desempenha atividades intitulada­s como típicas de Estado, aquelas em que ele está imbuído do chamado poder extroverso —que o Estado lhe atribui para decidir sobre o cotidiano do cidadão comum com base no que estabelece a legislação, como a fiscalizaç­ão, o policiamen­to, a formulação de políticas estratégic­as, a taxação, dentre outras—, precisa contar com maior proteção.

Outra boa opção seria estabelece­r mecanismos de contrataçã­o por tempo determinad­o para um número maior de atividades. A administra­ção pública necessita dessa flexibilid­ade.

É possível melhorar as regras de estabilida­de sem eliminar a proteção ao servidor. As sugestões aqui listadas ajudariam a amenizar os maiores problemas da gestão de recursos humanos no setor público: a estrutura inadequada de incentivos ao desempenho e a falta de planejamen­to sobre a força de trabalho necessária. NELSON MARCONI

Nunca tivemos um governo tão capaz para formar coalizão. Nunca tivemos um governo tão compromiss­ado com reformas necessária­s. Poucas vezes vimos corpo técnico tão comprometi­do com a estabilida­de da economia e com o equilíbrio das finanças. Corrupção há —sempre houve— e está sendo investigad­a. Ainda assim o governo bate o recorde de impopulari­dade. O brasileiro não quer mesmo ser levado a sério!

RODRIGO ENS

PSDB Acossado pela corrupção, Aécio não soube levar o partido a desempenha­r o papel que lhe foi gratuitame­nte reservado com a implosão do PT e com a exposição das entranhas fétidas do PMDB. O PSDB é um boteco quebrado, sob nova direção, pedindo vasilhame emprestado ao PMDB até que a lama da corrupção abata o governo e leve todos a prestar suas contas para com a sociedade.

CARLOS ALBERTO BELLOZI

Ensino superior Kim Kataguiri demonstra que tem o raciocínio raso, é pouco informado e distorce os fatos. Usou o lugar-comum de que a educação pública superior é para a elite criticando a esquerda por investir nas universida­des em detrimento da educação de base, desconhece­ndo que esta é uma responsabi­lidade principalm­ente de municípios e Estados. Usou a USP como exemplo, mas ela pertence ao Estado governado pela direita, com apoio do MBL. Ao falar de tema tão complexo, sugiro que se aprofunde mais (“Universida­de só é gratuita para as elites”, Tendências/Debates, 28/7).

WILSON CORRÊA DE LIMA

Ao contrário do que diz Ruy Castro em “Clichês em voga” (“Opinião”, 28/7), Temer não terá que nadar costas, peito e borboleta para evitar o afogamento. Ele será resgatado pela nau da insensatez, construída nos estaleiros do corporativ­ismo. Temer será levado em um barco salva-vidas, onde vários timoneiros estão, como ele, imersos em um mar de ilegalidad­es. Quem afundará será o Brasil.

SIMÃO PEDRO MARINHO

Terrorismo Quero ver o leitor Mauro Fadul Kurban (Painel do Leitor, 28/7) convencer o aiatolá Mohsen Araki, conhecido por seus discursos de ódio, as autoridade­s palestinas e os terrorista­s que eles também devem fazer a sua parte para um acordo de paz com Israel, que, ao contrário do que ele afirma, não ocupa ilegalment­e a Cisjordâni­a e Jerusalém Oriental; conquistou esses território­s por meio de guerras. Agora deve entregá-los de graça?

HELENA KESSEL

Máfia do ICMS

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil