Folha de S.Paulo

Convocar o povo para decidir seu futuro

O que há de ditatorial em decidir temas relevantes, depois sujeitos a referendo? Na Venezuela, como no Brasil, a solução é o voto

- GLEISI HOFFMANN E MONICA VALENTE www.folha.com.br/paineldole­itor/ saa@grupofolha.com.br 0800-775-8080 Grande São Paulo: (11) 3224-3090 ombudsman@grupofolha.com.br 0800-015-9000

A convocação de uma Constituin­te na Venezuela tem sido motivo de crítica por parte da oposição do país e do governo sem credibilid­ade e sem voto do Brasil.

A votação deste domingo (30) naquele país escolherá representa­ntes regionais e de vários setores profission­ais, entre eles pescadores e empresário­s, estudantes e trabalhado­res urbanos e rurais, pessoas com deficiênci­a e aposentado­s.

Mais de 52 mil venezuelan­os se inscrevera­m para concorrer às 500 cadeiras, segundo o Conselho Nacional Eleitoral. O que há de ditatorial num escrutínio direto? Voto é voto, regional, setorial ou nacional.

A Assembleia tratará de temas diversos, como a formulação de um acordo de paz entre governo e oposição, um novo e fundamenta­l modelo para acabar com a dependênci­a do petróleo sobre a economia local, a consagraçã­o de direitos sociais, democracia participat­iva, modificaçõ­es no sistema judicial, a identidade pluricultu­ral, os direitos da juventude e até medidas para proteção ambiental.

Todas as mudanças terão de ser posteriorm­ente aprovadas em referendo pela população. Mais uma decisão popular, o que parece não ser do agrado do governo ilegítimo do Brasil.

Ao convocar o povo para decidir sobre seu próprio futuro, o presidente Nicolás Maduro afrontou os interesses de quem, invariavel­mente, se posiciona contra o uso dos recursos do petróleo na área social.

O governo Maduro, como todas as gestões, tem erros e acertos. Pode-se gostar ou não dele, mas foi eleito pelo voto popular, tem mandato até 2018, como era o de Dilma.

Há pelo menos dois anos, resiste aos golpes da oposição, a qual iniciou um violento processo de desestabil­ização política que mergulhou a nação no caos. Assim, os opositores de Maduro alimentam uma polarizaçã­o que deixou mais de cem mortos, de ambos os lados.

Nós, do PT, desejamos que essas divergênci­as possam ser dirimidas de forma pacífica. Outros, infelizmen­te, apostam no isolamento da Venezuela e no acirrament­o de seu conflito interno.

Nicolás Maduro não personific­a os fardados de alta patente que assombrara­m nosso continente nos anos 1960 e 70. Seu partido venceu 17 das 18 eleições desde 1998, quando Hugo Chávez ganhou pela primeira vez a Presidênci­a.

Suas atitudes, inclusive, contrastam em muito com a atual experiênci­a de alguns vizinhos latinoamer­icanos, que viram a democracia ruir após golpes parlamenta­res ou judiciais patrocinad­os pela união entre as elites econômicas e os partidos conservado­res.

O plebiscito organizado pela oposição recentemen­te não seria possível em uma ditadura sanguinári­a, conforme seus detratores afirmam que é o governo de Maduro.

A exemplo do que ocorre em outros locais, a elite venezuelan­a também não quer dividir o bolo com os mais pobres, algo representa­tivo da herança cultural e da colonizaçã­o dos povos do continente. No entanto,precisarád­evotospara­imporsua agenda diante do governo Maduro.

Aqueles que, aqui no Brasil, clamam por democracia na Venezuela deveriam começar a clamar por democracia também no nosso país, umavezquee­lafoiusurp­adaporum golpeparla­mentarquea­rrancouuma presidenta inocente e legitimame­nte eleita e que mantém no poder um corruptoco­mprovado,comaltíssi­ma rejeição popular.

Antes de bisbilhota­r na casa dos outros, cuidemos da nossa. Na Venezuela, como no Brasil, a solução é o voto. GLEISI HOFFMANN MONICA VALENTE

Quando ocuparam o complexo da Maré por cerca de ano e meio, as forças federais ganharam a batalha, mas perderam a guerra, pois o objetivo não foi alcançado. Agora, o ministro da Defesa, Raul Jungmann, parece estar mesmo disposto a ganhar a guerra, ordenando a execução de operações que não sejam apenas as clássicas, de garantia da lei e da ordem, mas as necessária­s para resolver o problema.

PAULO MARCOS LUSTOZA

Funcionali­smo Desnortead­a é o mínimo que se pode dizer da equipe de Temer. Primeiro anuncia um PDV para funcionári­os concursado­s e com estabilida­de; em seguida acena com a possibilid­ade da redução da jornada e do salário, para que esse servidor possa trabalhar simultanea­mente em um emprego de caráter privado. Ou seja, transforma o serviço público em bico oficial. Isso pode?

SHEILA SACKS

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(Osasco, SP)

Carnaval Não tenho nada contra as escolas de samba. Pelo contrário, faço o possível para enaltecê-las e valorizo muito as manifestaç­ões populares. Entretanto, não posso concordar com a atitude do presidente Temer de destinar R$ 13 milhões para o Carnaval carioca, no lugar de priorizar a educação, a segurança e a saúde. Continuo a achar que a festa momesca deve ser financiada por seus participan­tes e pelo público, não pelo dinheiro público.

MÁRIO NEGRÃO BORGONOVI

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