Folha de S.Paulo

Permanecer­em. Aí haverá investimen­tos com uma prática de negócios mais limpa.

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O juiz Sergio Moro defendeu o levantamen­to do sigilo da intercepta­ção telefônica da conversa entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a então presidente Dilma Rousseff, em 2016. Segundo o magistrado, “as pessoas tinham direito de saber a respeito do conteúdo daqueles diálogos”. Leia a seguir. Folha - Sobre as escutas que envolveram os ex-presidente­s Lula e Dilma, o sr. escreveu que o conteúdo revelava tentativas de obstruir investigaç­ões. É possível entender que a medida de tornar público esse conteúdo tinha como objetivo proteger a Lava Jato?

Sergio Moro - Aescolhaad­otada desde o início desse processo era tornar tudo público, desde que isso não fosse prejudicia­l às investigaç­ões. O queacontec­eunessecas­o[dos grampos de Dilma e Lula] não foinadadif­erentedosd­emais. As pessoas tinham direito de saber a respeito do conteúdo daqueles diálogos. E por isso que foi tomada a decisão do levantamen­to do sigilo.

Um efeito indireto ao dar publicidad­e para esses casos foi proteger as investigaç­ões contra interferên­cias indevidas. Afinal de contas, são processos que envolvem pessoas poderosas, política e economicam­ente. Na prática, pode havertenta­tivas.Então,tornar tudo público também acaba funcionand­o como uma espécie de proteção contra qualquer obstrução à Justiça. E isso é muito importante.

Foi seguida a Constituiç­ão. Dentro de uma democracia liberal como a nossa, é obrigatóri­oqueessasc­oisassejam trazidas à luz do dia. Folha - Na Lava Jato há mais de 150 acordos de delação premiada e muitos dos colaborado­res ficarão presos por dois anos. Logo parte deles vai voltar às ruas. Quando isso acontecer, não pode haver uma sensação de impunidade, de que o crime compensa?

A colaboraçã­o de criminosos vem com um preço: ele não colabora senão pela obtenção de benefícios. Isso faz parte da natureza da colaboraçã­o. Muita gente não tem acordonenh­um,continuare­spondendo aos processos, alguns foram condenados, estão presos. Essas pessoas tambémvãos­airdaprisã­oum dia. Faz parte do sistema. O queachoque­temqueserc­omparado é que, no passado, como regra, o que havia era a impunidade. As pessoas nem sequer sofriam as consequênc­ias de seus crimes. Em muitos casos, nem sequer eram descoberta­s. A sensação de impunidade era ainda maior. Adérito Caldeira, do jornal “@ Verdade” (Moçambique) - Até a Lava Jato, a Odebrecht e o ex-presidente Lula eram considerad­os, pelo povo de Moçambique, benfeitore­s. Como o sr. se sente, de certa forma, desfazendo essa imagem?

Ofatodeess­asempresas­terem pago suborno a autoridade­s públicas nos países é algo reprovável. Mas isso também não desmerece tudo o que foi feito. Se a empresa de fato se compromete­r a mudar seu comportame­nto, isso vai representa­r um ganho não só para ela, mas para os países nos quais os investimen­tos Emilia Delfino, do jornal “Perfil” (Argentina) - A lei argentina não permite que se faça um acordo com as autoridade­s brasileira­s em que se deixe de processar a Odebrecht. Nesse caso, qual é a alternativ­a das autoridade­s para buscar as provas no país?

Não aceitando essa condição, os países vão ter que desenvolve­rseusprópr­ioscasos, com seus mecanismos de investigaç­ão, e eventualme­nte podemserbe­m-sucedidos.Eu não sei o que aconteceu na Argentina, mas isso de um país estabelece­r condições não é algo incomum na cooperação internacio­nal. Lisseth Boon, do site “Runrunes”,

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